terça-feira, 30 de setembro de 2014

DEUS ESTÁ EM TODAS AS CIRCUNSTÂNCIAS

C. H. Mackintosh




Não há nada que ajude tanto o cristão a suportar as provas que encontra no seu caminho do que o hábito de ver Deus em todas as circunstâncias. Não há circunstância, por mais trivial ou comum que seja, que não possa ser considerada como um mensageiro de Deus, se apenas o ouvido tiver sido circuncidado para ouvir, e a mente for espiritual para entender a mensagem. Se perdermos de vista essa valiosa verdade, a vida, em inúmeras ocasiões, não será mais do que uma maçadora monotonia, não nos apresentando nada além de circunstâncias ordinárias, comuns. Por outro lado, se pudermos lembrar, à medida que começamos cada novo dia, que a mão de nosso Pai pode ser identificada em cada cena — se pudermos ver, tanto na menor como na mais pesada circunstância, um pouco da presença Divina, quão significativa não se tornará a história de cada um dos nossos dias!


O livro de Jonas ilustra essa verdade de forma marcante. Ali aprendemos aquilo que tanto precisamos lembrar: não há nada comum nem normal para o cristão; tudo é extraordinário. As coisas mais comuns, a mais simples circunstância ocorrida — revelam, na história de Jonas, as evidências da intervenção especial. Para ver esses instrutivos pontos, não é necessário entrar nalguma exposição detalhada do Livro de Jonas; precisamos apenas de uma expressão, que de novo sempre aparece, ou seja: o Senhor preparou.


No capítulo um, o Senhor enviou um forte vento ao mar, e esse vento continha a solene voz para o ouvido do profeta, se apenas ele estivesse atento para ouvir. Jonas é que precisava de ensino; foi para ele que o mensageiro foi enviado. Os pobres marinheiros pagãos, sem dúvida, já se haviam muitas vezes deparado com uma tempestade; para eles isso não era nada novo, nada especial, nada mais que a sorte comum dos homens do mar; contudo, era especial e extraordinário para um indivíduo a bordo, embora esse alguém estivesse adormecido no porão do navio. Em vão tentaram os marinheiros reagir à tormenta; nada ajudaria enquanto a mensagem do Senhor não tivesse alcançado o ouvido daquele para quem ela havia sido enviada.


Seguindo Jonas um pouquinho mais, percebemos outra ocasião em que podemos identificar Deus em todas as circunstâncias. Ele é levado a novas circunstâncias, contudo não está além do alcance dos mensageiros de Deus. O cristão não pode jamais deparar-se numa posição em que a voz do seu Pai não lhe possa alcançar o ouvido, ou em que a mão do seu Pai não possa alcançar a sua situação, porque tanto a Sua voz pode ser ouvida assim como a Sua mão pode ser vista em qualquer lugar. Dessa forma, quando Jonas foi lançado para dentro do mar, "Deparou o Senhor um grande peixe, para que tragasse a Jonas". Aqui, também, vemos que não há nada comum para o filho de Deus. Um grande peixe não era nada incomum; há muitos deles no mar; contudo o Senhor preparou um para Jonas, de forma que ele fosse o mensageiro de Deus para a sua alma.


Novamente, no capítulo quatro, encontramos o profeta assentado no lado oriental da cidade de Nínive, num impaciente mau humor, aborrecido porque a cidade não havia sido subvertida, implorando que o Senhor lhe tire a vida. Parece que ele havia esquecido a lição aprendida durante os três dias de viagem nas profundezas do mar, e por isso precisava de uma nova mensagem de Deus: "E o Senhor lhe preparou uma aboboreira". Isso é muito instrutivo. De facto nada havia de incomum na circunstância da aboboreira; outros homens decerto viam milhares delas, e, além do mais, possivelmente se assentavam junto à sua sombra, e nada viam de extraordinário nelas. Mas a aboboreira de Jonas dava mostras da mão de Deus, e formava um elo — um importante elo — na corrente das circunstâncias através das quais, pelo desígnio de Deus, o profeta estava passando. A aboboreira agora, como o grande peixe anteriormente, embora muito diferentes quanto à espécie, era o mensageiro de Deus para a sua alma. "E Jonas ficou grandemente agradecido pela aboboreira." Anteriormente ele havia desejado morrer, mas esse desejo era mais o resultado da sua impaciência e desgosto, do que de um santo desejo de partir e descansar para sempre. Era mais aflição pelos acontecimentos presentes, do que a alegria pelo futuro que fazia com que desejasse partir daqui.


Muitas vezes é isso que acontece. Frequentemente estamos ansiosos de nos ver livres das pressões desta vida; mas se essas pressões fossem removidas, o desejo cessaria. Se desejássemos a volta de Jesus, e a glória da Sua bendita presença, as circunstâncias não fariam diferença; deveríamos, então, possuir esse desejo tão ardente pela volta dEle como temos o desejo de nos ver livres de nossas actuais pressões e tristezas. Jonas, enquanto estava assentado junto à sombra da aboboreira, não pensava em partir, e o próprio facto de estar "grandemente agradecido pela aboboreira "provou o quanto ele precisava dessa mensagem especial do Senhor; ela serviu para tornar manifesta a verdadeira condição da sua alma, quando pronunciou estas palavras: "Toma, eu te peço, a minha vida; porque me é melhor morrer do que viver". O Senhor pode fazer até mesmo de uma aboboreira um instrumento para revelar os segredos do coração humano. Com toda a verdade o cristão pode dizer: Deus está em todas as circunstâncias. A tempestade ruge, e a voz de Deus ouve-Se; uma aboboreira brota em silêncio, e nisso se vê a mão de Deus. Contudo, a aboboreira era um mero elo da corrente, porque o Senhor preparou um verme, e esse verme, insignificante como era, quando visto como um instrumento, era, contudo, agente divino tanto quanto o "forte vento" ou o "grande peixe". Um verme, quando usado por Deus, pode fazer maravilhas; ele murchou a aboboreira de Jonas, e ensinou-lhe, da mesma forma que ensina a nós, uma solene lição. De facto, ele era apenas um agente insignificante, cuja eficácia dependia da sua cooperação com outros; mas isso meramente ilustra mais ainda a grandeza da mente de nosso Pai. Ele pode preparar um verme, e Ele pode preparar um ardente vento oriental, e fazer com que ambos, embora tão diferentes um do outro, se tornem favoráveis aos Seus grandes desígnios.


Em suma, a mente espiritual vê Deus em todas as circunstâncias. O verme, a baleia e a tempestade, todos são instrumentos na Sua mão. Tanto os mais insignificantes como os mais esplêndidos agentes, todos promovem a Sua vontade. O vento oriental não teria sido eficiente, mesmo sendo tão ardente, se antes o verme não tivesse executado o trabalho para o qual foi designado. Quão impressionante é isso tudo! Quem é que pensaria que um verme e um vento oriental poderiam ser ambos co-agentes na execução de um trabalho de Deus? Contudo foi isso o que aconteceu. Grande e pequeno são termos usados pelos homens; eles não podem ser usados com referência a Ele "que se inclina para ver o que se passa no céu" bem como o que se passa "sobre a terra" (Sl 113.6). Todas essas coisas são iguais para Ele "que está assentado sobre a redondeza da terra" (Is 40.22). Jeová pode contar o número das estrelas, e enquanto Ele o faz, sabe exactamente o que acontece com uma pequenina ave que está sendo abatida. Ele pode fazer do redemoinho a Sua carruagem, e de um coração quebrantado a Sua morada. Para Deus, nada é grande ou pequeno.


Por isso o crente não deve considerar nada comum ou ordinário, porque Deus está em todas as circunstâncias. De facto, o cristão deveria passar pelas mesmas circunstâncias — enfrentar as mesmas provas — deparar-se com os mesmos contratempos que os outros homens; mas ele não precisa enfrentá-los do mesmo modo que eles, nem deve interpretá-los segundo o mesmo princípio; nem devem essas circunstâncias trazer ao seu ouvido o mesmo tipo de relatório ou impressão. Ele deve ouvir a voz de Deus, e deve prestar atenção à Sua mensagem, tanto na mais simples como na mais extraordinária ocorrência do dia. A desobediência de uma criança, ou a perda de um património, o desvio moral de um empregado ou a morte de um amigo, tudo deveria ser olhado como mensageiros divinos à sua alma.


Assim também, quando olhamos à nossa volta no mundo, Deus está em tudo. Tronos caindo, impérios desmoronando-se, a fome, a pestilência, em cada evento que ocorre entre as nações, tudo exibe traços da mão de Deus, e articula uma voz para o ouvido humano. O Diabo tentará roubar do cristão a doçura deste pensamento; ele vai procurar levar o cristão a pensar, no mínimo, que a mesmice das circunstâncias do dia-a-dia nada tem de extraordinário, mas é o que acontece com todos os outros homens. Mas não devemos submeter-nos a ele nesse assunto. Devemos iniciar as nossas manhãs com essa verdade vivamente impressa na nossa mente — Deus está em todas as circunstâncias. O Sol que corre os céus em brilhante esplendor, e o verme que se arrasta pelo caminho, foram ambos preparados por Deus, e, mais ainda, podem ambos juntamente cooperar no desenrolar dos Seus insondáveis desígnios.


Gostaria de mencionar, por fim, que o único que andou constantemente à luz desta preciosa e importante verdade foi o nosso bendito Mestre. Ele viu a mão e ouviu a voz do Pai em todas as circunstâncias. Isso transparece de forma especial nos Seus momentos de mais profundo sofrimento. Ele expressou-Se no jardim do Getesêmane com estas notáveis palavras: "não beberei, porventura, o cálice que o Pai me deu?" (Jo 18.11), dessa forma reconhecendo plenamente que Deus está em todas as circunstâncias.

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