terça-feira, 11 de março de 2014

OS RESULTADOS DO FRACASSO DA PREGAÇÃO NA VIDA DA IGREJA.

Por Judiclay S. Santos

1) Empobrecimento do culto cristão.
Na estrutura do culto cristão, a exposição bíblica é o principal ato de adoração. Culto público de adoração sem a pregação do evangelho não é apenas pobre, é falso. “O que vemos hoje é a marginalização do púlpito. Há uma percepção de que o púlpito é apenas um móvel decorativo no santuário e que alguém tem que usá-lo para alguma coisa”.4 É triste e lamentável constatar a pobreza dos cultos. A falta de pregação bíblica e a quantidade de cânticos medíocres na musicalidade e heréticos no conteúdo é um escândalo. Quando a pregação não ocupa o centro no culto cristão e a Palavra perde a devida primazia na vida da igreja prevalecem o subjetivismo, o antropocentrismo, o sensacionalismo, o paganismo e todo tipo de excentricidades. Tais coisas, por sua natureza, não glorificam a Deus e não edificam a igreja de Jesus Cristo.  

2) Desfibramento moral da igreja. 
Se a pregação é o principal meio de graça, através do qual a igreja é santificada pela ação do Espírito Santo, onde não há pregação do evangelho a corrupção do coração é potencializada e se manifesta com maior força. Existem contundentes evidências da falta de integridade moral por parte de muitas pessoas que confessam ser cristãs. Valores e práticas incompatíveis com a Palavra de Deus se tornaram comuns no arraial evangélico. Se o profeta Oséias pregasse para essa geração de cristãos no Brasil, sua mensagem seria: “Volta, ó Israel, para o Senhor, teu Deus, porque, pelos teus pecados, estás caído”.5 A exortação do Cristo ressurreto à igreja em Sardes é bem adequada à igreja brasileira: “... não tenho achado íntegras as tuas obras na presença do meu Deus”.6 Uma das razões pelas quais a igreja padece de fraqueza moral é porque “há uma tendência dos púlpitos modernos a propagar uma mensagem que informa, mas não transforma, que diverte mas não converte” (Abgel).

3) Confusão doutrinária no seio da igreja. 
João Calvino, grande teólogo e experiente pastor, afirmou que “a ignorância é mãe de todas as heresias”. Onde a verdade é negligenciada floresce o erro. O Brasil, conhecido por sua cultura mística de profundas raízes no paganismo, é terreno fértil para a proliferação de ensinos errados. As matizes, quer seja, a pajelança indígena, os  ídolos do catolicismo romano, os rituais afro-ameríndios,   o kardecismo anglo-saxão ou as seitas “evangélicas”, conspiram contra o genuíno evangelho. Nesse cenário de múltiplas divindades, variados cultos e tantos credos, o enfraquecimento do magistério da Palavra e a negligência da pregação tornam a igreja vulnerável e criam o ambiente para o sincretismo. Não seria essa a triste realidade da igreja evangélica no Brasil?

4) Decadência espiritual.
Um púlpito fraco é a maior tragédia da igreja. Spurgeon estava certo ao afirmar que “o mais maligno servo de Satanás que conheço é o ministro infiel do evangelho”.7 O fracasso da pregação é a causa primária da miséria espiritual da igreja. Sempre que a igreja é transformada em teatro da fé, o púlpito em vitrine de vaidades, o culto em serviço de entretenimento e o pastor em animador de auditório, a decadência espiritual é inevitável. À luz das Escrituras, a falta de santidade, devoção, misericórdia, sabedoria, compaixão, fervor, piedade, vida e amor são evidências do declínio espiritual. A igreja tem dado sinais de fraqueza espiritual e existem algumas razões pelas quais isso acontece. O notável João Crisóstomo indica uma delas. "Quando você vir uma árvore cujas folhas estejam secas e murchas, algo de errado está acontecendo com as suas raízes; quando você vir um povo indisciplinado, sem dúvida, os seus sacerdotes não são santos".8 A igreja que tolera um pastor negligente no ministério da pregação comete suicídio. 

II. FATORES CONTRIBUINTES PARA O DECLÍNIO DA PREGAÇÃO.
O declínio não foi súbito, mas gradual. Um estudo criterioso apontará as razões pelas quais a glória da pregação ter sido apagada. O renomado Dr. Albert Mohler9 aponta alguns elementos significativos, dentre os quais, destacamos três:

1) A pregação contemporânea sofre de perda na confiança no poder da Palavra
Muitos pregadores não creem na autoridade da Bíblia como Palavra de Deus. É impressionante constatar a quantidade de pastores que deveriam nutrir a fé da igreja a partir da pregação da Palavra, mas não o fazem porque não confiam que de fato a Bíblia é a Palavra de Deus. Se um homem nega a inspiração, autoridade e suficiência da Escritura, ele não está qualificado para pregar.  

2) A pregação contemporânea sofre de obsessão por tecnologia
Vivemos em uma sociedade de forte apelo audiovisual. O emprego de novas tecnologias não deve ser descartado, mas avaliado criteriosamente. O risco não é usar esses recursos, mas se tornar escravo deles. Um pastor não pode gastar mais tempos preparando slides para apresentar o seu sermão do que estudando o texto bíblico  e orando diante de Deus, por si e pelos seus ouvintes. Como bem observou o dr. Moller, Deus decidiu ser ouvido e não visto. 

3) A pregação contemporânea sofre de focalização em necessidades sentidas
A principal necessidade do ser humano é a paz com Deus por meio de Cristo. Desconsiderar essa verdade torna o púlpito um centro de aconselhamento para tratar realização profissional, saúde financeira e relacionamentos interpessoais. A psicologização do púlpito é uma triste realidade no cenário evangélico brasileiro. Enquanto os pregadores gastam tempo falando sobre os sete passos para melhorar o casamento, muitos casais nada sabem sobre o que significa o texto: “Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela”.10
 
O pastor moderno precisa voltar-se para o estudo profundo das Escrituras e para a pregação expositiva da revelação divina. Pequenos sermões tópicos, carregados de ilustrações sentimentais, que se ouvem nos púlpitos, [...] não satisfazem as mais profundas necessidades espirituais dos ouvintes”.11
Felizes são as igrejas cujos pastores pregam a Palavra de Deus. A história testemunha que as igrejas que mais crescem espiritualmente são aquelas que valorizam a pregação. Enquanto o púlpito não ocupar a primazia no culto não haverá edificação.

III. ENCORAJAMENTO AOS PREGADORES
A Reforma Protestante, a despeito de todas as acusações de seus detratores, deixou um glorioso legado para o cristianismo, o resgate da pregação pública da Palavra de Deus.  Os reformadores não inventaram a pregação, mas certamente lutaram para que ocupasse a primazia no culto cristão. Eles exortavam os que estavam sob a sua liderança  a buscar excelência na pregação da Palavra.  John Owen declarou que “o primeiro e principal dever de um pastor é alimentar o rebanho pela pregação diligente da Palavra”. Para tanto, eles tinham um pressuposto e uma motivação. Primeiro, eles entendiam que a pregação da Palavra de Deus é “um meio de graça indispensável e sinal infalível da verdadeira igreja” (Calvino). Segundo, a incansável luta desses gigantes da fé tinha como alvo a glória de Deus. Sendo essa a motivação primária para subir ao púlpito e anunciar o evangelho da graça. Deus é glorificado quando a igreja é edificada, e isso acontece através da diligente e fiel pregação da Palavra.

Martin Lloyd-Jones disse que a pregação é a tarefa mais importante do mundo. Calvino entendia que o púlpito é o trono de onde Deus governa a sua igreja. A reforma da igreja começa no púlpito da igreja. “O avivamento da igreja acontece quando se acende uma fogueira no púlpito”. (D. W. Moody).

UMA PALAVRA DE ENCORAJAMENTO

1) Pregue a palavra
Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina.12
Uma grande honra é sempre acompanhada de uma grande responsabilidade. A exortação de Alexander Wyte é muito oportuna: “Nunca pense em abrir mão da pregação! Os anjos em derredor do trono invejam sua grandiosa obra.” 

2) Estude exaustivamente o texto
Sem disciplina nos estudos não é possível pregar com excelência. “Pregação que não custa nada não vale nada”, exortava John Henry Jowett. O pastor deve dedicar-se aos estudos e a preparação do sermão. Alguém sugeriu que para cada minuto de pregação o pregador deveria investir uma hora de preparação. Pode parecer muito, ou até mesmo impraticável, mas o ponto é que o preparo é fundamental. Segundo Spurgeon, o príncipe dos pregadores, “aquele que cessa de aprender cessa de ensinar. Aquele que não semeia nos estudos não colhe no púlpito”. 

3) Crie pontes entre o mundo bíblico e o contemporâneo
Não torne a sua pregação uma coisa enfadonha e sem sentido. Conheça a Escritura, mas também o povo para o qual você prega. Mostre as pessoas a conexão entre o texto bíblico e a vida delas. Use ilustrações vivas e verdadeiras. Uma boa ilustração é como janelas em uma casa, iluminam e arejam o ambiente. A viva e eficaz Palavra de Deus precisa ser comunicada com clareza, a fim de que haja uma correta aplicação para os ouvintes. 

4) Seja humilde: você depende da graça de Deus
Certo pregador subiu ao púlpito cheio de confiança em si mesmo. Foi um completo fracasso. Então alguém lhe disse: Se você subisse como desceu (humilde) teria descido como subiu (confiante). A humildade é uma virtude que faz toda diferença na vida do pregador. Os talentos não são suficientes. Para obter a bênção de Deus no exercício da pregação é necessário suplantar a soberba e pregar na completa dependência do Senhor. McCheyne acertou ao dizer que “não é tanto os talentos o que Deus abençoa, mas uma grande semelhança com Jesus. Um ministro de vida santa é uma tremenda arma nas mãos de Deus”.13

5) Ore invocando a presença do Espírito Santo
Sermões áridos e sem vida matam a igreja. O que torna um sermão uma pregação é o poder do Espírito. “A pregação é lógica em fogo” (Lloyd Jones). Todo pregador deve buscar a unção do Espírito, sem o qual os frutos são impossíveis. Em uma época de aguda fraqueza espiritual nos púlpitos, acompanhada de inúmeras conversões fabricadas pela manipulação das emoções humanas, todo pregador deveria levar em consideração as palavras do apóstolo Paulo, um dos maiores pregadores da história do cristianismo: “porque o nosso evangelho não chegou até vós tão-somente em palavra, mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção, assim como sabeis ter sido o nosso procedimento entre vós e por amor de vós”.14

Em suma, sem pregação bíblica, proclamada no poder do Espírito Santo, não há esperança para a igreja brasileira. Deus tenha misericórdia de nós.

Pr. Judiclay S. Santos

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1LATIMER, Hugh. Citado por STOTT, John. Eu Creio na Pregação. Vida: São Paulo, 2001, pp. 27-28.
2OLYOTT, Stuart. Pregação Pura e Simples. Fiel: SJC, 2008, p. 23.
3Efésios 3.8.
4MOHLER, Albert. Apascenta o meu rebanho. Cultura Cristã: São Paulo, 2009, p. 25.
5Oséias 14.1.
6Apocalipse 3.2.
7SPURGEON, Charles H. O Ministério Ideal, Vl 2. PES: São Paulo, 1990, p. 65.
8CRISÓSTOMO, In: Homilias sobre o Evangelho de Mateus (38), citado por SPENER Filipe Jacob, Pia Desideria, p. 26.
9MOHLER, Albert. Deus não está em silêncio. Fiel: São José dos Campos, 2011, pp. 22-28.
10Efésios 5.25.
11CRABTREE. A Doutrina Bíblica do Ministério Pastoral. Rio de Janeiro: Juerp, 1981, p. 81.
122 Timóteo 4.1-2.
13MCCHEYNE, Robert M. Citado por STOTT, John. O perfil do pregador. São Paulo Vida Nova, 2005, p. 114.
141 Tessalonicenses 1.5.

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