A inveja, do hebraico qinah, do grego phthonos, e do latim invidere,
pode ser entendida como uma tristeza, um ressentimento pela prosperidade
e felicidade do próximo. O invejo não deseja o lugar ou os bens do
outro (cobiça), mas que o outro não seja bem sucedido em suas
realizações e na vida.
Conforme Champlin:
A inveja é uma das maiores demonstrações de mesquinharia humana, causada
pela queda no pecado. Os invejosos chegam a fazer campanhas de
perseguição contra suas vítimas, as quais, na maioria das vezes, não têm
qualquer culpa por haverem despertados tal sentimento nos invejosos.
Geralmente os malsucedidos têm inveja dos bem-sucedidos. Essa é uma
tentativa distorcida para compensar pelo fracasso, glorificando ao
próprio “eu” e procurando enxovalhar a pessoa invejada. Está baseada,
portanto, na mais pura carnalidade. Muitas vítimas da inveja já
descobriram que a melhor maneira de evitar o invejoso é fugir dele. Uma
pessoa bem-sucedida não pode abandonar o seu sucesso, somente para
satisfazer o invejoso, tornando-se um fracassado como ele [...]. A
inveja tem sido motivo para muitas histórias pervertidas, para muitos
dramas humanos.[1]
Observemos a maneira como na Bíblia o tema “inveja” é tratado:
- A inveja é algo que não devemos ter em relação aos homens iníquos,
perversos, violentos, pecadores, malignos, malfeitores (Sl 37.1; 72.2-3;
Pv 3.31; 23.17): A aparente felicidade e prosperidade dos homens que
não temem a Deus não deve despertar em nós tão pernicioso sentimento. É
preciso que consideremos o fim deles (Sl 73.17-20).
- A inveja promove a competição entre os homens (Ec 4.4): As nossas
habilidades, talentos, realizações e trabalhos não devem ser produzidos
pela inveja, pelo desejo de superar o outro, de ofuscá-lo ou
ridicularizá-lo.
- A inveja é um pecado característico do mundo pagão/gentio sem Deus (Rm
1.29): Ao escrever aos romanos ele declara que o homem sem Deus está
cheio de inveja (gr. mestous phthonou, μεστους φθονου).
- A inveja é uma das obras da carne (Gl 5.21): A inveja (gr. phthonoi,
φθονοι) é uma obra da carne (gr. erga tes sarkos, εργα της σαρκος, Gl
5:19). Para Barclay, a carne é “a natureza humana conforme se tornou
através do pecado”.[2]
- A inveja é o motivo pelo qual alguns proclamam a Cristo (Fp 1.15): Era
“por inveja e rivalidade” (gr. dia phthomon kai erin, δια φθονον και
εριν), que alguns tentavam ofender e atrapalhar a prosperidade do
ministério de Paulo.
- A inveja é resultado de mentes contenciosas e entorpecidas por
heresias, que usam a piedade com fonte de lucro (1 Tm 6.3-5): O
entorpecimento, a obsessão, o desejo egoísta dos falsos mestres fazem
nascer inveja (gr. givetai phthonos, γινεται φθονος, v. 4).
Clemente de Roma, um dos Pais da Igreja, ao escrever a sua Primeira
Carta aos Coríntios, adverte acerca dos males da inveja, e afirma ter
sido ela a causa do assassinato de Abel (fratricídio), por seu irmão
Caim (Gn 4.3-8; 1 Jo 3.11-12), do ódio dos irmãos de José (Gn 37.3-4),
da sedição de Arão e Miriã (Nm 12.1-16), da rebelião de Corá, Datã e
Abirão (Nm 16.1-3), da perseguição de Saul sobre Davi (1 Sm 18.6-12).[3]
A inveja pode ter gerado a armação feita pelos presidentes e sátrapas
contra Daniel (Dn 6.1-13). Foi a inveja que desencadeou o plano dos
líderes judaicos para matar Jesus (Mt 27.18; Jo 11.47-53).
A inveja foi também incluída na lista dos sete pecados capitais. Os sete
pecados capitais foram formalizados no século VI, quando o papa
Gregório Magno, tomando por base as cartas de Paulo, definiu como sendo
sete os principais vícios de conduta: gula, luxúria, avareza, ira,
soberba, preguiça e inveja. A lista só se tornou "oficial" na Igreja
Católica no século XIII, com a Suma Teológica, documento publicado por
Tomás de Aquino. No documento, ele explica o que os tais sete pecados
têm que os outros não têm. O termo "capital" deriva do latim caput, que
significa cabeça, líder ou chefe, o que quer dizer que as sete infrações
são as "líderes" de todas as outras.[4]
Luís Vaz de Camões (1524-1580), poeta português, considerado uma das
maiores figuras da literatura em língua portuguesa, disse: “onde há
inveja, não há amizade”.[5]
A inveja é um mal que está presente na vida em família, na vida em
sociedade (escola, faculdade, trabalho, etc) e na comunidade cristã,
inclusive entre os seus líderes (obreiros, ministros, etc.).
Oremos a Deus, e assim como fez Davi (Sl 139.23-24) peçamos que Ele nos
sonde, e veja se em nosso íntimo há algum caminho mal, dentre os quais, o
caminho da inveja, para que trilhemos o caminho da alegria e do gozo
pela felicidade e pelo sucesso no nosso próximo (Rm 12.15a).
Amado irmão, caminhe firme na Palavra e confiante no Senhor, para que
assim as aflições que a inveja provoca sejam superadas. Não tema os
invejosos. Querendo ou não, gostando ou não, aqueles que não vivem
conforme a reta justiça contemplarão o cumprimento das promessas do
Senhor em nossas vidas, para a manifestação e o louvor de sua glória:
Lembrai-vos disto e tende ânimo; tomai-o a sério, ó prevaricadores.
Lembrai-vos das coisas passadas da antiguidade: que eu sou Deus, e não
há outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que desde o
princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade, as coisas
que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho permanecerá de pé,
farei toda a minha vontade; que chamo a ave de rapina desde o Oriente e
de uma terra longínqua, o homem do meu conselho. Eu o disse, eu também o
cumprirei; tomei este propósito, também o executarei. Ouvi-me vós, os
que sois de obstinado coração, que estais longe da justiça. Faço chegar a
minha justiça, e não está longe; a minha salvação não tardará; mas
estabelecerei em Sião o livramento e em Israel, a minha glória. (Is
46.8-13, ARA).
[1] CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de bíblia, teologia e filosofia. 5. Ed. São Paulo: Hagnos, 2001, p. 355, v. 3.
[2] BARCLAY, William. As obras da carne e o fruto do Espírito. São Paulo: Vida Nova, 2000, p. 24.
[3] Padres Apostólicos. São Paulo: Paulus, 1995, p. 26 e 27.
[4] MOTOMURA, Marina. Qual a origem dos sete pecados capitais? Disponível em mundoestranho.abril.com.br, acessado em 02/09/2012.
Fonte : Pr Elias Ribas
Via Cruzada Despertar
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