Por Mikaella Campos
Realmente, eu não sou ninguém. Sou apenas uma jovem mulher de 28 anos,
casada, que trabalha, cuida da casa e do marido e ainda dedica parte do
tempo à leitura da Palavra de Deus e à adoração àquele que tudo fez.
Nunca assumi uma igreja. Nunca tive os holofotes sobre mim. Realmente,
eu não sou ninguém. O que me faz sentir algo é a presença inimaginável
do Espírito Santo. Esse habita em mim, move-me, ensina-me a pensar e a
identificar por meio das Escrituras algo que está longe de ser a
pregação do evangelho. É essa presença em mim que me faz ser alguém.
Alguém com autoridade para refutar falsas doutrinas. É o Espírito Santo
que tem transformado o meu caráter e me feito pensar quanto que tenho
que melhorar para chegar aos pés da sabedoria e da santidade de Jesus
Cristo.
Se a minha vida como cristã é ser imitadora de Jesus (Efésios 5.1,
Hebreu 6.12, I Coríntios 11.1), ao contrário do que o senhor diz, eu, a
ilustre desconhecida, tenho autoridade dada por Jesus para usar o lado
questionador, crítico, impetuoso, revolucionário de Cristo. Não sei se o
senhor já leu a Bíblia, mas no Novo Testamento, podem-se encontrar
momentos em que Jesus enfrentava os líderes religiosos da época. Esse
pessoal era recheado de hipocrisia, mentiras. Diziam-se santos, mas não
passavam de tartufos, que se cobriam com capas religiosas viciadas de
corrupção.
Os fariseus de hoje são os nossos líderes religiosos, que podemos chamar
de povo pseudo-evangélico. Grupo, no qual, o senhor participa e não faz
questão de mostrar humildade. São pastores dominados pela arrogância
assim como os hipócritas do passado. Como serva de Cristo tenho o
direito de não ser simpática a falsas doutrinas e a comportamentos
infantis e egocêntricos na pregação da mensagem de Deus. Jesus raramente
era cordial com as falsas autoridades religiosas. Eu também tenho o
direito de não ser.
Primeiro questionamento
Para começar a questionar a sua carta, digo que a internet hoje tem
desempenhado um importante papel na pregação de um evangelho longe das
teorias humanas que sempre rondaram às igrejas. Ao contrário dos
pensamentos ditatoriais de alguns pastores como o senhor, a internet é
um lugar onde as pessoas têm encontrado espaço para questionar esse
evangelho raso, de fundo de quintal, que tem sido anunciado por aí.
Durante muito tempo, pastores como o senhor faziam de tudo para deixar o
povo cego e ignorante à verdadeira mensagem do evangelho. Mas graças ao
bom Jesus Cristo, pela internet, têm se levantado pessoas capazes de
confrontar mentirosos e de apontar os erros teológicos, doutrinários que
estão levando muitas almas para o inferno.
E o seu argumento quanto aos críticos não passa de uma mensagem
infantilizada e sem qualquer fundamento bíblico. Ser contrário a uma
mensagem recheada de inverdades não significa ter inveja. Na verdade,
mostra como o povo cristão tem adquirido um conhecimento divino para
lutar contra falsas doutrinas. E quando o senhor chama os críticos de
invejosos, pessoas frustradas, recalcadas, a sensação que tenho é que o
senhor não conseguiu ainda provar biblicamente que está certo, que tem
respaldo de Deus para ser uma “voz profética”.
Quanto ao ódio que o senhor diz que os críticos têm podemos ver esse
sentimento estampado, na verdade, na sua face, nas suas palavras.
Porque, se houvesse amor nas suas mensagens, os cristãos que estão indo
contra o senhor, pastor Malafaia, não se sentiriam tratados com
hostilidade.
O mesmo texto que citou de Mateus 7.1 (“não julgueis, para que não
sejais julgados”, e Lucas 6:38b “porque com a mesma medida que medirdes,
também vos medirão de novo”), deixo para o senhor. Pois, o senhor,
pastor, disse em alto e bom tom que os críticos da sua mensagem são
caluniadores, difamadores e a voz do diabo. Ou será que Deus, além da
voz profética, concedeu ao senhor o direito de julgar as pessoas que só
querem ver uma pregação pura, sem sujeira, sem corrupção ser anunciada
no nosso país?
Segundo questionamento
Não estou aqui para escrever um artigo sobre sua vida como pastor.
Afinal, como o senhor mesmo disse, foram 30 anos de chamado. No entanto,
não posso deixar escapar uma questão um pouco atrevida que o senhor
colocou na sua carta. O senhor diz não receber salários da igreja, mas
que as pessoas estão falando mal do senhor porque Deus tem te abençoado e
honrado a tua fidelidade. Quando li isso, lembrei-me do apóstolo Paulo
que recebia as doações de outros cristãos e compartilhava tudo com os
pobres. O carro blindado que ganhou, o que o senhor fez com ele? Vendeu
para repartir para os pobres e para que o dinheiro fosse usado na
expansão do evangelho? E o seu avião particular? O senhor também ganhou?
E quando o senhor fala que as igrejas deixam seus pastores na miséria,
será que esse questionamento não serve para o senhor? Já que é tão
abençoado, por que não compartilhar essa graça?
Sinceramente, eu não estou com raiva do senhor porque eu ando de Ford Ka
2007 enquanto o senhor anda de carro blindado. O que me deixa indignada
é a forma que o senhor se reporta às pessoas, chamando-as de invejosas
porque não têm os mesmos ganhos que o senhor. A maior parte da população
desse país, até entre os cristãos (não sei se o senhor sabia disso),
precisa trabalhar para ter um salário que lhes ofereça pelo menos a
chance de se alimentar com dignidade. Para conseguir comprar uma roda de
bicicleta, como o senhor fala, essas famílias precisam viver anos de
economia até conseguir o dinheiro o suficiente para conquistar o sonho.
Será que essas famílias são menos abençoadas por Deus por que nunca
ganharam um relógio nem do Paraguai, enquanto o senhor anda para cima e
para baixo com relógio de ouro que ganhou de algum amigo?
E já que a sua vida e seu ministério são testemunhos do que Deus tem
feito, por que o senhor teme a investigação da Receita Federal e do
Ministério Público? Se tudo está correto, se não houve nenhuma
enganação, por que ter medo de abrir as contas e mostrar de onde vem o
seu sustento? E por que não agir com clareza em vez de fugir das
investigações?
Eu te desafio
Eu, senhor pastor, lanço-te um desafio: a mostrar com clareza sua vida e
ainda a dividir todo o seu patrimônio acumulado com os pobres. Desafio
também, senhor pastor Malafaia, para ir pregar a teologia da
prosperidade no sertão, onde há fome. Na África, onde as crianças morrem
desnutridas, onde as mães dão seus seios secos para tentar afagar a
fome dos seus bebês. Desafio, o senhor pastor, a ir às favelas entregar
tudo o que senhor arrecadou com as bênçãos de Deus para aquelas famílias
que estão com dificuldade para se alimentar.
Minha oração
Toda vez que faço uma crítica a uma falsa doutrina, seja por meio de
blogs, Facebook, Twitter, ou mesmo nos grupos da igreja a qual pertenço,
não fico feliz por isso. Na verdade, sou dominada por uma grande
tristeza, pois sei que muitas almas estão sedentas de Deus, mas estão
sendo guiadas por líderes cegos. E ao contrário do que o senhor diz, eu
oro não para que pastores hipócritas como o senhor caiam. Eu oro a Deus
para que o senhor e os outros líderes se convertam de verdade. Peço a
Deus para tirar a arrogância do coração dos senhores e que o desejo de
ser humilde e pacificador possa dominar o coração dos atuais apóstolos
do poder.
***
Mikaella Campos é mais uma ilustre desconhecida (no reino dos homens soberbos), jornalista, cristã Batista há 28 anos, desses 20 com entendimento. Escreve para o blog “Minha vida em cristo sem heresias” e faz sua estréia aqui no Púlpito Cristão.
Mikaella Campos é mais uma ilustre desconhecida (no reino dos homens soberbos), jornalista, cristã Batista há 28 anos, desses 20 com entendimento. Escreve para o blog “Minha vida em cristo sem heresias” e faz sua estréia aqui no Púlpito Cristão.
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