“Ou
qual é a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma,
não acende a candeia, varre a casa e a procura diligentemente até encontrá-la?
E, tendo-a achado, reúne as amigas e vizinhas, dizendo: ‘Alegrai-vos comigo,
porque achei a dracma que eu tinha perdido.’ Eu vos afirmo que, de igual modo,
há júbilo diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende” (Lucas
15:8-10).
Nesta
segunda de três parábolas que Jesus usou para justificar sua graciosa busca de
pecadores ele usa o mesmo argumento da vida ordinária que na parábola da
Ovelha Perdida. “Qual é a mulher...?” Sabemos, ele diz, o que faria
qualquer mulher que tenha perdido uma moeda de prata em sua casa. Ela
esquadrinharia toda a casa, virando-a de pernas para o ar, até que encontrasse
a moeda perdida.
É
importante para nós, ao pensarmos nesta parábola, não imaginar que estamos
lidando com alguma mulher rica, ou que a moeda é semelhante em valor às nossas
modernas. A moeda perdida era um drachma grego, igual ao denarius romano,
e equivalente a um dia de salário no mundo antigo (Mateus 20:1-2). Teria sido
uma perda séria para o lar médio num mundo onde a existência era
frequentemente da mão para a boca e uma moeda era a diferença entre a sobrevivência
e o desespero. Justamente num tal lar Jesus tinha nascido e sido criado. Mesmo
em nossa comparativa abundância há poucos de nós que não rebuscariam nossas
casas diligentemente para encontrar uma soma de dinheiro equivalente a um dia de
renda mal colocada, e que não se sentiria alegre e aliviado quando ela fosse
recuperada.
Alguns
têm especulado que a moeda perdida possa ter sido uma das dez moedas de prata
costumeiramente dadas por um noivo como enfeite da testa para sua noiva. Tal
moeda teria obviamente um valor sentimental, bem como prático. Sua perda se
compararia à perda de um anel de noivado, que guarda simbolicamente dentro dele
todas as promessas lembradas e a alegria de um casamento. Desta possibilidade
podemos apenas dizer que nada na parábola proíbe dizer ou estabelecer isso.
O
foco da Parábola da Moeda Perdida como o da Ovelha Perdida está na preocupação
natural por coisas perdidas e a alegria de recuperá-las. Não há justificação
para fazer alegoria desta história que, tomada como é, expõe o ponto de Jesus
admiravelmente. Imaginações férteis têm visto a mulher (ou a casa) como um símbolo
para a igreja; a lâmpada como uma figura da Palavra de Deus, e a varrição da
casa como um sinal para a perturbadora obra do Espírito Santo. Como Buttrick
observou, concernente a algum tratamento de Trench da parábola, “é uma
alegoria que podemos alegremente ignorar”.
É
perigoso forçar a interpretação de todos os pormenores desta parábola. Uma
moeda inanimada, perdida devido a descuido ou infelicidade de outros, obviamente
não simboliza perfeitamente um homem animado e de livre arbítrio. Apanhado no
próprio erro sobre o qual ele adverte, Buttrick escreve extensamente sobre
pessoas que são perdidas porque nasceram em circunstancias cruéis e não podem
deixar de estar onde estão. Nada poderia estar mais longe da mente do Senhor.
Ele está apelando para um arrependimento que, ainda que leve a misericórdia,
exige inequívoca aceitação da responsabilidade pelas próprias transgressões
(Lucas 13:3-5). Como pode alguém se afastar daquilo que não escolheu?
Esta
parábola, como a anterior, não é apenas sobre a divina misericórdia mas
sobre o desejo insaciável no coração de Deus por todo pecador, o sentido de
perda que o faz buscar.
Esta misericórdia é mais do que disponível, é
apaixonada em sua determinação de recuperar cada pessoa cujo pecado lha tem
negado. Francis Thompson retrata esta busca incessante em seu poema muito
pessoal, O Caçador do Céu.
Dele
fugi, noites e dias adentro;
Dele fugi, pelos arcos dos anos;
Dele fugi, pelos caminhos dos labirintos
De minha própria mente; e no meio de lágrimas
Dele me ocultei, e sob riso incessante.
Por sobre esperanças panorâmicas corri;
E lancei-me, precipitado,
Para baixo de titânicas trevas de temores abissais,
Para longe daqueles fortes Pés que seguiam, seguiam após mim.
Mas com desapressada perseguição,
E com inabalável ritmo,
Deliberada velocidade, majestosa urgência,
Eles marcavam os passos - e uma Voz insistia
Mais urgente que os Pés -
"Todas as coisas traem a ti, que traíste a Mim”.
Dele fugi, pelos arcos dos anos;
Dele fugi, pelos caminhos dos labirintos
De minha própria mente; e no meio de lágrimas
Dele me ocultei, e sob riso incessante.
Por sobre esperanças panorâmicas corri;
E lancei-me, precipitado,
Para baixo de titânicas trevas de temores abissais,
Para longe daqueles fortes Pés que seguiam, seguiam após mim.
Mas com desapressada perseguição,
E com inabalável ritmo,
Deliberada velocidade, majestosa urgência,
Eles marcavam os passos - e uma Voz insistia
Mais urgente que os Pés -
"Todas as coisas traem a ti, que traíste a Mim”.
Como
Barclay observou, nenhum fariseu tinha jamais sonhado com um Deus como esse. Um
que talvez fosse misericordioso para os bons que vinham implorar caminhos
merecidos, mas certamente não alguém que fosse em busca dos indignos patifes
da sociedade. Mas não havia nada nos modos de Jesus que os fariseus não
pudessem ter antecipado se eles jamais tivessem verdadeiramente entendido o Deus
do Velho Testamento, sobre o qual eles tinham durante tanto tempo caducado. Do
jardim do Éden ao último apelo lamentoso dos profetas, ele tinha estado em
incessante procura de seu povo perdido, ainda que triste seja seu estado, ainda
que indiferente sua resposta. Diferente da mulher da parábola, Jesus nunca
recuperará todos os que estão perdidos para ele, mas nunca será por falta de
busca e procura.
–por
Paul Earnhart
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