domingo, 6 de fevereiro de 2011

SEPAL !!!!!!!!!!

ANALISE DA IGREJA BRASILEIRA.
Nos dias 19 e 20 de março de 2007, o Datafolha realizou uma pesquisa religiosa comprovando aquilo que todos nós já sabíamos: os evangélicos continuam crescendo em quase todo o Brasil: eles são 22% da população brasileira! Interessante notar que nesta pesquisa, eles foram subdivididos apenas em dois grupos: evangélicos pentecostais (17%) e evangélicos não-pentecostais (5%), o que comprova mais uma vez que a grande maioria (quase três quartos) da igreja evangélica é fruto do movimento carismático e pentecostal.
A pergunta que vale um milhão de dólares...
Estamos realmente passando por um avivamento / despertamento espiritual no Brasil? Será que as características e qualidades deste crescimento tipificam um genuíno avivamento? O que significa este crescimento? Será que isso não demonstraria apenas um despertamento geral da população brasileira para as questões espirituais, decepcionada com a modernidade e suas promessas de realização e felicidade?
Para responder esses questionamentos, precisaremos saber que tipo de igreja está crescendo e avaliar algumas características da espiritualidade brasileira. Inicialmente devemos reconhecer que o Espírito de Deus tem agido em muitas regiões do Brasil, aumentando a sensibilidade das pessoas, trazendo-as ao reconhecimento de suas necessidades espirituais, restaurando pessoas e transformando famílias. É inegável que multidões foram trazidas a uma nova convicção da verdade do evangelho, persuadidas a Cristo, o Filho de Deus, como o único Senhor e Salvador da humanidade. É notório que vários aspectos do avivamento estejam presentes no Brasil. Talvez este seja um tempo de colheita! Colheita, porque as terras brasileiras foram fertilizadas pelas sementes, sangue, suor e lágrimas de muitos pregadores por mais de um século, desde que os primeiros missionários chegaram ao Brasil nos idos de 1850 e elas frutificaram a cem, a sessenta e a trinta por um (Mt 13:23). Entretanto, há sinais claros de fumaça no horizonte, sinais de que nem tudo vai bem no arraial evangélico. Gostaria de destacar algumas impressões sobre o crescimento da igreja evangélica no Brasil nas últimas décadas. São elas:
1. Uma espiritualidade carnal ou uma carnalidade espiritual
A conversão ao cristianismo leva necessariamente à mudança de atitudes: velhos vícios são abandonados e uma nova linguagem é aprendida (seria o evangeliquês?). O novo convertido experimenta fortes emoções, sente o amor de Deus e entrega sua vida a Ele. Entretanto, por mais válidas e abençoadoras que sejam essas experiências espirituais, elas não demonstram conhecimento profundo da graça salvadora e da pessoa de Deus. Reverência a Deus, dedicação à igreja e fortes emoções religiosas não florescem nos campos daquela espiritualidade que é regada pela água da vida, pela alegria do Espírito e pelo amor genuíno descoberta na cruz de Jesus. Ou seja, pessoas com aparência espiritual podem estar vazias da graça de Deus.
Isso faz com que muitos dos crentes, participantes das igrejas brasileiras, manifestem certos tipos de pecados religiosos dissimulados, estilos de carnalidade com fachada de espiritualidade. É comum para aqueles que invejavam o carro importado ou a casa do colega de trabalho desejarem agora as mesmas coisas através de uma oração de posse, decretando prosperidade do Filho de Deus. Aqueles que anteriormente ambicionavam o cargo ou comissão do chefe do departamento, agora aspiram, humilde e avidamente, ao título de diácono ou a posição de liderança (pastor, bispo, apóstolo, etc.) com toda a voracidade do mercado de trabalho. Embora não exagerem mais na quantidade de bebida alcoólica (comida em excesso parece ser liberado nas igrejas, em geral) a glutonaria ambiciosa dos dons espirituais e cargos ministeriais mantém os desejos carnais bem vivos e ativos. É claro que tudo isso se disfarça com tanta sutileza passando despercebido para a maioria dos evangélicos, freqüentadores dos cultos sendo, imperceptível até mesmo para os pastores e líderes. Esses são apenas alguns exemplos do que poderia ser chamado de espiritualidade carnal ou carnalidade espiritual. Tais atitudes, embora sutis e inconscientes, corroem a comunidade cristã como câncer, devorando sua vitalidade de dentro para fora.
Há uma grande quantidade de atividade religiosa no mundo energizada pela natureza humana e pelo próprio diabo. A natureza humana pode ser facilmente mascarada e encoberta pela espiritualidade das pessoas. Padrões e atitudes que aparentemente têm cara e jeito de cristianismo podem encobrir uma carnalidade nos níveis mais íntimos das intenções e desejos do coração. O próprio Jesus disse que o joio é muito parecido com o trigo (Mt 13:24-27) . Quase todos os períodos de crescimento e avivamento na história da igreja comprovam que o trigo do evangelho fora cercado pelo joio das atividades carnais e elementos enraizados nos pecados do orgulho, vaidade, impureza, divisões, soberba, lascívia, etc.
Não é fácil separar o certo do errado, o bem do mal na igreja da atualidade. Por um lado, Deus está agindo imensamente em todo o Brasil, revitalizando velhas igrejas e especialmente plantando e fazendo crescer novas comunidades. Mas Satanás habilmente planta o joio no meio do trigo do avivamento, misturando o santo com o profano, bombardeando a luz do evangelho com os projéteis e mísseis das trevas, mesclando o bom leite espiritual com o café amanhecido da religiosidade (numa linguagem bem brasileira). A tarefa de arrancar o joio do meio do trigo – e separar a igreja verdadeira da artificial - é impossível aos homens, segundo Jesus.
Da mesma maneira, o joio está misturado ao trigo no coração de todas as pessoas. O pecado se mistura em diversas doses e combinações dentro do coração, diluindo os elementos da fé, amor e santidade, implantados após a conversão pelo Espírito Santo. Ninguém é capaz de identificar e separar completamente o que vem de Deus daquilo que vem dos próprios desejos do coração humano. Há tantas combinações entre o bem e o mal, entre virtude e vício, entre aspirações por santidade e desejos da carnalidade. Nenhum cristão pode ter certeza absoluta que suas experiências sejam puramente experiências espirituais, sem que estejam poluídas pelo pecado ou misturadas à natureza humana. Nas terras do coração, as sementes da maldade fertilizam lado a lado com as sementes da Palavra. O importante é saber regar e adubar as melhores plantas.
O melhor é reconhecer humildemente as grandes semelhanças entre a espiritualidade dos religiosos e dos genuínos cristãos! Quantas vezes determinadas denominações e comunidades isolam-se dos outros grupos por considerarem-se mais espirituais, separam-se para viver em comunidades orgulhosas e egoístas! Quão difícil é separar o joio do trigo! O Deus onisciente, o conhecedor dos corações, é o único que tem prerrogativa para separar as ovelhas dos cabritos, estes para o castigo eterno, aqueles para a vida eterna (Mt 25:31-46).
Continua na parte 2
por Luis André Bruneto
As Bases Bíblicas para a Renovação e Revitalização da Igreja Local

Precisamos pensar na sociedade antes de realizarmos um ministério efetivo nela. Conhecer a sociedade e as culturas, as faces, as pessoas. Porque? Porque só conhecendo a sociedade podemos ser efetivos na transmissão do amor e da justiça de Deus.
Esse ministério efetivo consiste em levar o Evangelho do Reino de Deus em toda a sua totalidade. Proclamá-lo e agir diante da proclamação. Falar de amor e praticá-lo. Pregar justiça e ser justo.
Quero destacar as bases bíblicas para uma renovação da igreja local, fazendo uma paralelo com as “bem-aventuranças” do Sermão do Monte em Mateus 5:1-11.

2.1. Bem aventurados os humildes de espírito...
... porque deles é o Reino dos Céus.
A igreja sempre esteve na vanguarda da história e temos mais pontos negativos do que positivos como resultado disso. Creio que o primeiro passo para a igreja passar por uma renovação é humilhar-se sob a poderosa mão de Deus, porque só Ele poderá nos exaltar (1 Pd 5:6; Tg 4:10).
A Bíblia destaca o valor da humildade: Deus habita com os humildes, vivifica os contritos, olha para os abatidos de espírito. Precisamos do sentimento do publicano da parábola: “Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador” (Lc 18:13)

2.2. Bem aventurados os que choram...
... pois serão consolados.
O segundo passo para a renovação é chorar. Não “lágrimas de crocodilo”, mas lágrimas de contrição, de arrependimento. Precisamos chorar pela tristeza do pecado, como Davi chorou quando caiu em si de seu pecado (Sl 32; 51). A igreja precisa arrepender-se como Pedro se arrependeu de ter traído o Mestre e chorou amargamente (Lc 22:62).
Precisamos chorar também com os outros. Isso significa solidariedade. É lindo ver Jesus chorando com seus amigos pela morte de Lázaro, porque ele demonstra ali sua solidariedade, sua compaixão (Jo 11:35). Chorar com os que choram e alegra-se com os que se alegram é manifestar verdadeira simpatia. Chorar é sofrer com os que sofrem.
Precisamos chorar porque Deus vê nossas lágrimas (Is 38:5; Sl 56:8), e também porque os que choram serão consolados. Chorar é manifestar simpatia, é sentir com alguém, e é aí que mora o conforto.
A igreja precisa chorar com os que choram. Ser solidária.

2.3. Bem aventurados os mansos...
... porque herdarão a terra.
A palavra praeia significa gentil, humilde, bondoso, amável [1]. Ser manso tem um significado também de submissão, de servidão. E é aqui que desejo chegar: ser manso significa, portanto, estar completamente submisso à vontade de Deus. Cristo foi um exemplo de mansidão (Fl 2:6-7). Paulo foi outro exemplo (Gl 2:20).
A igreja tem que ser, portanto, completamente submissa à vontade de seu Senhor. Ser realmente gentil, humilde, bondosa e amável em tudo quanto fizer. A promessa é que se assim procedermos herdaremos a terra (Sl 37:11). Novos céus e nova terra.

2.4. Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça...
... porque serão fartos.
A base para a renovação da igreja passa pela justiça de Deus. A igreja não deve fazer justiça com as próprias mãos, como na “era das trevas”, mas sim buscar a justiça divina e agir de acordo com ela em todos os aspectos da vida humana.
A sede e fome têm características interessantes. Só tem fome e sede aqueles que estão vazios. Por isso, Jesus disse isso para os insatisfeitos. A igreja tem que ser insatisfeita até ver a justiça de Deus completamente estabelecida na terra. Também só tem fome e sede aqueles que querem coisas melhores. Buscar uma sociedade justa não é papel só do governo e da sociedade civil, mas é tarefa primordial da igreja, pois ela têm em suas mãos o que direciona à verdadeira justiça: a Palavra de Deus.
Ter fome e sede de justiça significa também ter fome e sede de Deus, de Jesus. O que disse Jesus aos sedentos? “Se alguém tem sede, venha a mim e beba!” (Jo 7:37).

2.5. Bem aventurados os misericordiosos...
... porque alcançarão misericórdia.
Outra característica para uma renovação da igreja local é a misericórdia. A palavra elehmosunh significa ato caridoso, esmola [2]. A misericórdia é uma ação positiva e eficaz, não foca só na alma. Ela se traduz em ação àquele que está carecendo de misericórdia. Se a igreja aspira à verdadeira justiça, ela tem o real sentimento da solidariedade humana, chamada misericórdia.
Exercer misericórdia está na ação de realizar atos de bondade àqueles que necessitam. O Senhor Jesus garantiu que quando fazemos o bem a alguém, seja uma visita a um enfermo, a um preso, seja quando cobrimos alguém que está nu, ou seja quando damos um copo de água a alguém que tem sede, estamos fazendo ao próprio Senhor (Mt 25:35-40),

2.6. Bem aventurados os limpos de coração...
... porque verão a Deus.
Outra característica bíblica para uma real renovação da igreja é a limpeza de coração. Os judeus eram muito meticulosos quanto à limpeza cerimonial Estavam preocupados com regras, temiam a contaminação do exterior e criticavam quem não fazia o mesmo (Mt 15:2). Contudo, o Senhor os exortou quanto à limpeza interior (Mt 23:25-28).
Ser limpo de coração significa abandonar as obras da carne e produzir o fruto do Espírito (Gl 5:22ss). Ser limpo de coração significa que tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai. (Fl 4:8).
Essa pureza de coração tem uma dimensão muito grande. Significa ser fiel nos íntimos motivos da alma, isento de orgulho e interesse egoísta; significa ser humilde, abnegado, semelhante a uma criança.

2.7. Bem aventurados os pacificadores...
... porque serão chamados de filhos de Deus.
O mundo vive em ódio, em vingança, em dispersão, em guerra. Cristo vem com a mensagem de amor, de restauração, de paz. Ele é o Príncipe da Paz (Is 9:6). A paz é um dom de Deus. A igreja é chamada para ser pacificadora. Somos um exército de pacificadores.
O pacificador é aquele que lava ao mundo em conflito a mensagem de paz em Jesus Cristo. Os seguidores de Jesus são enviados ao mundo com essa mensagem de paz. A recompensa do pacificador é ser chamado de filho de Deus. Para ele, Deus não lhe é estranho, ante é Pai.

2.8. Bem aventurado os perseguidos por causa da justiça...
... porque deles é o reino dos céus.
Há um paralelo entre o verso 6 e o 10. No primeiro, existem os que têm fome e sede de justiça e nesse são perseguidos por causa da mesma justiça. Nos dois casos, os que assim procedem são bem-aventurados, felizes. Interessante notar esse paralelismo: ter fome e sede de justiça e depois ser perseguido por causa dele. Não seria muito mais fácil não ter fome e sede e não ser perseguido?
O texto não para aí. Ele continua até o verso 12 falando da perseguição que sofrem aqueles que dão sua vida em prol do Reino de Deus. Segundo Jesus: Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós.
Para os discípulos de Cristo há o caminho da perseguição. O apóstolo Paulo entendeu isso e orientou Timóteo: todos quantos quiserem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos (2 Tm 3:12). A igreja só dá valor à causa de Cristo quando sofre perseguições.


Portanto, para a igreja passar por uma renovação a receita está nas bem-aventuranças. O caminho para a revitalização de uma igreja passa pela contrição e humilhação diante de Deus. Passa pelo choro pelo arrependimento e clamor pelo perdão. Atravessa o trilho estreito da submissão ao Seu Senhor em tudo quanto ordenar. Atinge a justiça de Deus em ação na vida da igreja e na sociedade que ela está presente e a misericórdia, da mesma forma. Chega aos limpos de coração e aos pacificadores, aqueles que testemunham a verdade da limpeza que Cristo opera e leva adiante essas boas-novas de paz. E finalmente, a recita termina com a perseguição. Mesmo sendo portadores da melhor notícia que o mundo poderia receber sofreremos perseguições. A igreja só crescerá quando passar por essa restauração.

continua na parte 3
________________________________________
[1] F. Wilbur GINGRICH, & Frederick W. DANKER. Léxico do N.T. Grego/Português. p. 174
[2] F. Wilbur GINGRICH, & Frederick W. DANKER. Op.Cit. p.70
Para promover o crescimento integral da igreja necessitamos de algum tipo de ferramenta, um diagnóstico de saúde. Como se pode fazer isso? Em primeiro lugar, podemos descobrir alguns elementos que comprovem o crescimento em cada uma das quatro dimensões (numérica, orgânica, conceitual e diaconal). Façamos o exercício prático abaixo. Não precisamos resistir a isso. É importante avaliar o crescimento integral da igreja para melhor focalizar esforços e recursos. Em cada frase, assinale de 1 a 5 conforme a tabela abaixo:

1 - Nenhum progresso nos últimos 12 meses
2 - Pouco progresso nos últimos 12 meses
3 - Médio progresso nos últimos 12 meses
4 - Bom progresso nos últimos 12 meses
5 - Excelente progresso nos últimos 12 meses


I – Crescimento Numérico
( ) Frequentes conversões e batismos
( ) Preocupação e constante intercessão pelas pessoas que vivem longe de Deus
( ) Intensa atividade evangelística
( ) Boa análise das razões que levam ao crescimento ou decréscimo
( ) Crescimento através de novos membros ou transferências
____ Total

II – Crescimento Orgânico
( ) Crescimento na comunhão e na estrutura organizacional
( ) Grupos familiares bem estruturados
( ) Participação dos membros nos ministérios e programas
( ) Unidade e harmonia da Igreja
( ) Recursos físicos e prédios / aumento na contribuição financeira
____ Total

III – Crescimento Conceitual
( ) Treinamento e desenvolvimento dos líderes
( ) Fundamento doutrinário sadio e conhecimento bíblico
( ) Nível de congruência com a cultura local
( ) Boa análise e interpretação da realidade
( ) Discipulado e Mentoreamento
____ Total

IV – Crescimento Diaconal
( ) Ministérios de compaixão (ação social)
( ) Projetos diaconais em funcionamento
( ) Nível de envolvimento da igreja na sociedade
( ) Programas de transformação social
( ) Posicionamento ético e propostas práticas diante do sofrimento e conflitos sociais
____ Total

Reflita sobre os seus resultados e procure responder às seguintes perguntas:
• Existe um progresso equilibrado em todas as dimensões?
• Em quais áreas estão suas debilidades e fraquezas?
• O que deve ser feito para mudar esse quadro?
• Organize ministérios específicos para atender às necessidades em cada dimensão. Alguns exemplos de ministérios:

Numérico Orgânico Diaconal Conceitual
• Grupos de evangelização;
• Treinamentos evangelísticos;
• Recepção de visitantes;
• Discipulado dos novos membros;
• Células evangelísticas; • Integração e conexão;
• Grupos pequenos de crescimento e discipulado;
• Projetos de Comunicação interna;
• Grupos de oração; • Projetos de Ação Social
• Missão urbana, transcultural e missão integral
• Serviços diversos à comunidade local; • Treinamento Bíblico
• Escola Bíblica Dominical;
• Desenvolvi-mento e multiplicação de líderes;
• Nova geração de líderes.



Quando perguntamos aos pastores e líderes, “qual o perfil ideal para um plantador de igrejas?”, todos tinham muito a dizer e as respostas estavam pulverizadas, dispersas em várias direções. Destacamos os temas gerais:

Dois agrupamentos de respostas aparecem com frequência nos 270 questionários: os temas relacionados ao caráter e à espiritualidade do líder bem como os temas relacionados à sua capacidade ministerial e estratégica. Várias observações poderiam ser feitas, mas especialmente duas áreas trouxeram preocupação nesta pesquisa: Em primeiro lugar, apenas 31% das igrejas manifestaram sua preocupação com o conhecimento das Escrituras e 30% com a capacitação teológica. Excepcionalmente, os temas relacionados à família do plantador, apesar de vitais para o plantador de igrejas foram desfavorecidos, aparecendo em último lugar E 4%.




Por Rubens Muzio
Quando perguntamos às 270 igrejas: “como são assistidos (pessoal e financeiramente) os plantadores de igrejas em sua igreja local ou denominação?”, ficou claro que 20% delas não contribuem com nenhum sustento financeiro, apenas apoio e aconselhamento (B). Por outro lado, 50% dos plantadores têm algum tipo de ajuda financeira das igrejas mães (21% sustento parcial, 18% sustento integral e 12% certa ajuda em campanhas); 10.7% têm renda própria e familiar.









Quando perguntamos aos pastores e líderes, “qual o perfil ideal para um plantador de igrejas?”, todos tinham muito a dizer e as respostas estavam pulverizadas, dispersas em várias direções. Destacamos os temas gerais:

Dois agrupamentos de respostas aparecem com frequência nos 270 questionários: os temas relacionados ao caráter e à espiritualidade do líder bem como os temas relacionados à sua capacidade ministerial e estratégica. Várias observações poderiam ser feitas, mas especialmente duas áreas trouxeram preocupação nesta pesquisa: Em primeiro lugar, apenas 31% das igrejas manifestaram sua preocupação com o conhecimento das Escrituras e 30% com a capacitação teológica. Excepcionalmente, os temas relacionados à família do plantador, apesar de vitais para o plantador de igrejas foram desfavorecidos, aparecendo em último lugar
A Declaração de Valores da Igreja


Por Rubens Muzio
As perguntas chaves que fazemos nesta etapa são as seguintes: Qual é o conjunto de valores fundamentais que definem a igreja? Quais são as passagens e temas bíblicos que saltam aos olhos quando pensamos na nossa igreja? O que descreve a identidade da igreja a ser plantada ou em fase de crescimento? Quais motivações dirigem nossos programas e projetos? Qual fundamentação bíblica orienta os métodos e modelos de crescimento? Somos motivados pela própria Palavra de Deus. Por exemplo, a motivação missionária e evangelística do apóstolo Paulo é evidente em textos como Gl 1.16; At 26.19; Rm 1.16; Ef 2.4-16; 2 Co 5.11; 1 Co 9.24-27; Fp 3.14; Fp 1.15-18; Cl 3.23-24. Ao perguntar aos pastores e líderes quais princípios bíblicos foram mais importantes na plantação e crescimento de sua igreja, observamos uma variedade de textos bíblicos que procuramos sistematizar abaixo em categorias:


Esta declaração de valores é fundamental para tudo o que fazemos como Igreja. Eles tornam-se o conjunto ideológico de nosso ministério. Um bom conjunto de valores não muda repentinamente com o passar do tempo, com a eleição de novos pastores e presbíteros, com a construção de um novo templo e assim por diante. Este conjunto ideológico dá identidade à igreja e dirige o seu futuro. O conjunto ideológico permanece estável e permite à Igreja adaptar seu foco ministerial em períodos de mudança de paradigmas e culturas, aplicando-o ao novo público.


COMO SUA IGREJA CRESCE?
Por Rubens Muzio
Embora talvez seja uma das listas mais abrangentes, várias como estas surgiram nas últimas décadas com o objetivo de sugerir direção e enfoque para a igreja local. Nenhuma lista é perfeita; o imprescindível é que cada contexto precisa ser respeitado. Podemos compará-la a uma das perguntas que fizemos aos pastores das 270 igrejas pesquisadas de todo o Brasil. A questão era a seguinte: Quais atividades e programas Deus tem usado para produzir crescimento em sua igreja? Obtivemos a seguinte resposta:


É importante notar que a adoração, louvor e comunhão despontam em primeiro lugar em 84% das igrejas. Em segundo lugar vem pregação e ensino, atingindo 80% das respostas, seguidos de perto por capacitação de líderes (treinamento), com 78% e oração, com 75%. Programas tão necessários como a área social fora da igreja (6º lugar - 68%) e discipulado (9º lugar – 65%), não são apontados como prioridades tops. Predomina o excesso de atividades religiosas. É comum o desperdício de energia em muitas e longas reuniões. Ministérios “atiram” flechas para todos os lados, tentando todas as opções em busca do crescimento. Quem sabe, acertando algum alvo no final.

Um bom plano de ação para a igreja local envolve capacidade de implementação e avaliação

Uma vez estabelecido o plano de ação, com seus objetivos e estratégias, os líderes missionais precisam implementar e executar o plano. De nada vale o estabelecimento de metas se não levar à formulação de um plano de trabalho. Sem implementação e avaliação, se perde o rumo da visão e o ritmo do crescimento. Todo o esforço do plano de ação terminará em fracasso e ineficácia. A falta de revisão dos objetivos e estratégias acarretará frustração e atraso no avanço da missão da igreja na cidade.
Enfatizando primordialmente a implantação de igrejas em grupos étnicos e regiões menos alcançadas da cidade, os líderes missionais poderão refletir especificamente sobre seus alvos para os próximos anos. Tanto a nível local quanto denominacional, eles poderão responder às seguintes questões:

1. Qual será o número de igrejas implantadas num período de 5 anos?
2. Qual será o número de igrejas implantadas num período de 3 anos?
3. Qual será o número de igrejas implantadas até o ano que vem?
4. Quais são os modelos bíblicos de implantação e evangelização que a sua igreja ou denominação se sente mais confortável em utilizar?
5. O que você pode fazer para incentivar sua igreja a plantar igrejas filhas?
6. Quais serão os bairros onde você dará prioridade para implantar igrejas na cidade e região?
7. Quais serão os projetos e ministérios desenvolvidos nestes bairros?
8. Quais serão e onde estarão os projetos sociais que você dará prioridade para desenvolver na cidade?
9. Com quais igrejas ou denominações você gostaria de iniciar diálogo ou começar uma parceria de implantação de igrejas e/ou projetos sociais?
10. Quais passos a liderança de sua igreja ou denominação deve tomar para aumentar a prioridade na implantação de igrejas saudáveis?
11. O que este grupo aqui representado poderá fazer para trazer maior consenso diante destes objetivos?
12. Como você pessoalmente poderá aumentar o compromisso e paixão para alcançar os não-cristãos na sua região?
13. Como você será pró-ativo na implementação de estratégias de oração que capacitem movimentos de implantação de igrejas em sua denominação?
14. Quanto você estará disposto a investir nesta visão? ____________ Qual porcentagem do orçamento esta quantia representa? __________
Notemos que estas perguntas visam gerar maior compromisso do grupo presente com a visão missional inclusive com a possibilidade de envolvimento pessoal em todo o projeto. Uma maneira do processo de pesquisas funcionar seria através da utilização de dinâmicas de grupos pequenos, para debate e diálogo das diversas questões acima em um ou mais encontros. Isso ajuda o grupo a arregaçar as mangas e se envolver mais diretamente na visão. Outra excelente ferramenta para planos de ação que utilizo é a seguinte:
1. Resuma o plano de ação que você pretende realizar em poucas sentenças, de preferência num único parágrafo.
2. O que você pretende realizar através deste plano? Quando você pretende começar e quais serão os prazos para a implementação desse plano?
3. Quais serão os passos específicos que você dará para a realização desse plano?
4. Quais pressuposições ou acontecimentos imprevisíveis poderão afetar o desenvolvimento do seu plano? De que forma você poderá obter essas informações antes de começar seu plano de ação?
5. Quais recursos você terá ou precisará para levar adiante seu plano? (Recursos incluem tempo, energia, capacidade, compromisso, experiência, pessoas ou quaisquer outras coisas disponíveis para ajudar você com seu plano)
Recursos que possui:
Recursos que necessita:
6. Quais limitações ou barreiras você enfrentará no desenvolvimento de seu plano? Quais dessas barreiras podem se enfraquecidas ou eliminadas?
7. Quais tarefas, ações ou estratégias específicas precisarão ser iniciadas e realizadas - de acordo com qual agenda - para que seu plano de ação funcione?
8. Implementação: Realize!
9. Avaliação: Você conseguiu? Quanto sucesso você obteve? Você encontrou dificuldades inesperadas? Tem alguma informação nova que poderá capacitar você para reciclar e renovar o processo de planejamento? Qual será seu próximo plano de ação?[1]

O momento da avaliação é o momento da revisão dos objetivos, da verificação do bom andamento de cada estratégia, de cada aspecto do planejamento, de cada resultado, através de um monitoramento contínuo, pragmático e funcional. Este é o momento de observar se o programa está muito rígido ou complicado. Este é o momento para arrochar um plano de ação muito lento, de ajustar os objetivos e estratégias, quando necessário. Mas também, este é o momento de animar, encorajar e apoiar as pessoas da equipe. Uma ferramenta eficaz que pode ser utilizada para a avaliação do seu ministério é a seguinte: [2]

Programa Desenvolvido: Data:
Valor Central:
Objetivos Mensuráveis:
Observações e Reflexão
1. Vitórias Significativas
2. Resultados mensuráveis
3. Lições aprendidas
4. Análise orçamentária
5. Recomendações


________________________________________
[1] Adaptação de Robert E. LOGAN, CompuCoach(TM
Um bom plano de ação para a igreja local envolve o estabelecimento de objetivos e estratégias específicas

Partindo de uma visão clara e do estabelecimento dos valores, a igreja missional deverá montar seu plano de ação, ou seja, identificar seus objetivos principais (quais são os alvos?) bem como suas estratégias (como se pretende alcançar os objetivos específicos?). Estes objetivos e estratégias visam mover a igreja do ponto onde se encontra (real) em direção ao ponto onde necessita estar (ideal). Faz-se necessário também o estabelecimento de estratégias e objetivos específicos de acordo com a visão dada por Deus. A partir desta visão, as igrejas e pastores poderão gerar um plano de ação com vistas à prática dessa mensagem de forma mais direcionada e específica.

Objetivos e estratégias têm relação direta com os recursos disponíveis, as oportunidades ao redor e as necessidades mais urgentes. É importante perguntar constantemente qual estratégia ajudaria mais a chegar ao objetivo proposto com os recursos e oportunidades que se tem à mão? As estratégias devem ser executadas de acordo com os objetivos planejados. Os obstáculos ao avanço missional devem ser antecipados; o terreno por vezes é árido e deve ser devidamente preparado.
Este plano não deve se tornar apenas um relatório de final de planejamento ou mais um documento de final de conferência. Sabe-se que os homens e mulheres desenvolvem grandes visões, mas têm muita dificuldade na implementação e realização prática destes projetos. É necessário o descobrimento de estratégias que se provem eficazes em diferentes circunstâncias e para diferentes atividades.
Além disso, o plano de ação não precisa utilizar termos técnicos e nem ser monótono. Somente os dados que têm grandes implicações estratégicas devem ser apresentados. É necessário se explicar quais são essas implicações e sugerir as melhores opções quanto ao futuro. A tomada de decisão deve ser confiada aos líderes e à orientação do Espírito. Uma das maneiras mais eficazes para a geração de um plano de ação é a utilização das 4 dimensões do crescimento integral de Orlando Costas, expostas anteriormente: numérica, orgânica, conceitual e diaconal. Cada uma dessas dimensões poderiam se converter em objetivos gerais e estratégias específicas.
Um outro exercício também muito eficiente no desenvolvimento de um plano de ação para a igreja local é aquele voltado para uma estratégia urbana de evangelização e implantação de igrejas:
1. Quantas são e onde estão as igrejas evangélicas na cidade?
2. Quais os bairros mais / menos alcançados com a presença evangélica? Para isso é importante fazermos a relação entre o número de igrejas e o número de habitantes do bairro, de acordo com os censos do governo.
3. Quais segmentos da população mostram receptividade e estão se voltando para Cristo nas igrejas já existentes, em cada região da cidade?
4. Quais segmentos da população e regiões da cidade estão mais vulneráveis às seitas e cultos não-evangélicos?
5. Quais grupos urbanos necessitam ser alcançados com mais urgência?
6. Quais são as principais áreas da cidade que necessitam da implantação de novas igrejas?

Pastores e líderes missionais devem lutar pela harmonia entre o estilo de vida dentro e fora da igreja, buscando simetria entre os momentos quando a igreja está reunida para adoração, oração e ordenanças com aqueles momentos em que a igreja está espalhada, vivendo e trabalhando num contexto social. De acordo com Emílio Castro, o pastor deverá sempre estar engajado “dentro” e “fora” da igreja. Dentro, ele deverá:
1. Compreender o contexto em que vive sua membresia de tal maneira que possa ver como as circunstâncias da vida os condicionam e determinam;
2. Esclarecer motivações e atitudes dos fiéis, retornando suas conclusões ao material que eles vão dando em suas conversas com ele;
3. Explicar aos irmãos a ação libertadora de Deus na história e as possibilidades concretas que cada um deles tem de somar-se a um nível de ação possível;[1]

Castro trata do serviço pastoral para a comunidade. Fora da igreja, o pastor deverá:
1. Solidarizar-se com a comunidade e abrir portas para o diálogo e a possibilidade do serviço pastoral;
2. Interpretar em que direção se deve orientar a sociedade;
3. Ser agente de reconciliação;
4. Estar presente pastoralmente nos grupos de avanço da sociedade;
5. Interceder permanentemente pela comunidade.[2]
Costas coloca isso de outra forma. Para ele, a igreja possui dois movimentos muito claros: centrípeto e centrífugo. O Centrípeto – de fora para dentro, se refere às atividades internas da igreja. O Centrífugo se refere ao movimento de dentro para fora implícito na Grande Comissão.[3]
No ministério do pastor missional, as funções de “dentro” e de “fora”, “centrípeto” e “centrífugo” tem um caráter complementar. Uma completa a outra. A ação pastoral de “dentro” - descobrimento dos dons, serviço uns aos outros”, educação cristã, conforto nas visitações e administração dos negócios e finanças – comissiona a envia a igreja para exercer as funções de “fora” – orar pela cidade e seus problemas como sacerdote, enxergar a realidade e buscar a transformação como profeta e buscar ações concretas e mensuráveis que ajudem a medir a presença do Reino de Deus na terra.
________________________________________
[1] Cuidado pastoral Del hombre, p. 102.
[2] Emilio CASTRO. Cuidado Pastoral de la Comunidad Secular. Citado em Orlando COSTAS, El Protestantismo en America Latina Hoy: Ensayos de Camino by, p. 102.
Principais enfoques na plantação e crescimento da Igreja


Principais enfoques na plantação e crescimento da Igreja
Pesquisa: Rubens Muzio
Análise: Luis André Bruneto e Rubens Muzio
Nossa pesquisa com mais de 200 líderes e igrejas chegou à conclusão muito interessante com referências às principais características e ênfases nos modelos utilizados para plantação e crescimento da igreja.Dois ítens nos chamaram a atenção positivamente e dois negativamente na pesquisa. Vamos começar com os ítens negativos e posteriormente os positivos. Negativamente, o que nos chamou a atenção foi o pequeno foco no desenvolvimento e preparação de líderes (9%) para a plantação e crescimento da igreja. Dessa forma, o futuro da igreja pode-se comprometer por não existir material humano para assumir a frente da estrutura de ampliação da igreja local. Outro ítem negativo é que 9% não responderam essa pergunta, juntamente com 3,3% que não sabem, ou seja, "atiram para todo lado".

Positivamente são o segundo e terceiro ítens mais respondidos, pequenos grupos e células (19%) e pregação/oração/Bíblia (16%). Essa constatação nos mostra duas tendências muito importantes no meio evangélico. Por causa do advento da urbanização, a liderança evangélica tem aberto os olhos para a necessidade de grupos pequenos e a descentralização do poder, saindo do clero para o laico, tendência fortemente adotada nesse modelo de plantação e crescimento de igrejas. O outro ítem que nos chamou a atenção positivamente foi o tripé pregação/oração/Bíblia, que aponta para um "retorno" às raízes e uma busca piedosa de Deus para a plantação e crescimento da igreja local.

TEMAS %
A EVANGELIZAÇÃO 31
B PEQUENOS GRUPOS E CÉLULAS 19
C PREGAÇÃO/ ORAÇÃO / BÍBLIA 16
D IGREJA COM PROPÓSITO 12
E EVENTOS / PROPAGANDA 12
F ENSINO E DISCIPULAÇÃO 9
G CAPACITAÇÃO DE LÍDERES 9
H SEM RESPOSTA 9
I ADORAÇÃO / LOUVOR / EDIFICAÇÃO 8
J COMUNHÃO / INTERCESSÃO / ACONSELHAMENTO 8
K VÁRIOS MÉTODOS / PARCERIAS 6
L PONTOS DE PREGAÇÃO 6
M DONS / CURAS 5
N MISSÕES / SERVIÇO 4
O PLANTAÇÃO DE IGREJAS COM INFRA-ESTRUTURA PRÓPRIA 4
P ATENDIMENTO COMUNITÁRIO 4
Q REDES MINISTERIAIS 3
R PESQUISA E CONTEXTUALIZAÇÃO DO EVANGELISMO 3
S SEM MODELO / NÃO SABE 3.3

Vemos também que apenas 5% das igrejas pesquisadas utilizam dons em curas como sua maior ênfase. Isso talvez reflita o esfriamento espiritual, especialmente na igreja pentecostal. Apesar da propaganda focada nos milagres e maravilhas, os resultados não acontecem com a mesma frequência com que vinham acontecendo no movimento pentecostal avivalista das décadas de setenta e oitenta. Os rótulos são diversos, mas apatia, indiferença e arrefecimento da fé cristã encontram-se presentes em quase todos os conteúdos denominacionais. Sem sombra de dúvidas, diversas respostas da pergunta acima revelam um pouco do enigma, do caos em que se encontra a igreja evangélica brasileira bem como a falta de direção dos pastores e líderes.
A prioridade ao evangelismo, recrutamento de novos membros e crescimento numérico, de forma dramaticamente óbvia, visa apenas a “cristianização” da comunidade na aparência, nos números e no tamanho. O critério para o sucesso da igreja resume-se ao crescimento numérico e recursos financeiros. Parece que neste mundo evangélico do “vale tudo”, todo tipo de metodologia pode ser utilizada, desde que produza crescimento. Que visão distorcida e reduzida do evangelho! Os valores do evangelho possuem apenas um papel secundário e a igreja passa praticamente despercebida pelo povo que mora ao redor (de verdade, quem gostaria de residir ao lado de uma igreja, nos horários de culto?). Além disso, as igrejas continuam balançando de um lado para o outro do pêndulo, indecisas, inseguras se devem investir mais na evangelização e projetos evangelísticos ou se devem praticar mais assistência social na comunidade local.


Um bom plano de ação para a igreja local envolve visão e valores: Senhor, o que queres que façamos?

Sempre se corre o perigo de, ao chegar à coleta e análise da informação, o processo seja abortado. Estaciona-se o barco num porto seguro, sem saber exatamente o que fazer com toda essa pesquisa. Este é o momento da interpretação: Como relacionar as descobertas com o futuro, com a visão de Deus para a igreja? Nesta altura do processo, algo que o líder missional deve buscar é uma declaração clara dos seus valores centrais e uma busca concreta da visão de Deus. As perguntas que devem ser respondidas são as seguintes: Quais são os valores centrais da igreja? Qual sua finalidade nesta cidade? Como a igreja pode cumprir a vontade do Senhor na região onde está inserida? Qual é a visão de evangelização integral que o Espírito Santo deu para nossa igreja? Agora chegou o momento da ação, a hora de perguntar a Ele, “O que o Senhor quer que eu faça”? Baseado nas pesquisas e informações obtidas, o que Deus está falando conosco? As Escrituras afirmam que “sem visão o povo perece”.
A liderança missional necessita de uma imagem clara na sua própria mente: para onde a igreja está indo? Para onde Deus está se movendo no mundo? Para isso é necessária uma constante leitura do momento específico da missão de Deus, na história concreta do homem. Assim a ação da igreja segue as tendências de Deus e obedece sua missão na terra. Para onde Deus está se movendo? O que Deus está fazendo na história? Todo e qualquer plano de ação deverá ser iniciado com uma leitura da história desde a perspectiva da vontade de Deus para sua criação.
Portanto, centrada na Palavra, coberta por intercessão estratégica, com uma missiologia contextualizada, sem desprezo pelas informações recolhidas nas diversas pesquisas, é necessário que a igreja e seus líderes relembrem seus valores fundamentais, busquem discernimento no Espírito Santo e conheçam a Sua vontade para a cidade. A igreja deve proclamar uma clara e visionária mensagem profética que ajude na evangelização e transformação de cada área específica da cidade.
Este capítulo não visa ser um mero estudo teórico e pormenorizado sobre o significado de missão / visão e seus diversos elementos e aspectos, segundo os especialistas em liderança e administração. Ele visa abrir um diálogo para que pastores e líderes tracem um plano de ação claro e conciso para a sua igreja-em-missão. É hora de envolver a maioria dos membros de forma participativa num processo de reflexão, decisão e ação. Um exemplo de plano de ação a ser desenvolvido pela liderança da igreja seria reservar um dia na agenda da igreja para fazer o seguinte:
1. Orar juntos
2. Compartilhar suas alegrias e lutas
3. Estudar o contexto e cultura na qual estão inseridos
4. Ouvir a voz de Deus falando através das Escrituras
5. Buscar discernimento e obediência para as áreas para as quais foram chamados
6. Engajar-se em ministérios de cooperação [1]
O que você acredita e valoriza no evangelho deve estar no centro da estratégia missional da igreja. Sem uma profunda reflexão teológica dos valores dentro do contexto no qual Deus estabeleceu sua igreja, você dificilmente encontrará sua identidade e essência ministerial. Apesar de serem sugestões simples e óbvias, poucas pessoas participam de igrejas caracterizadas por tal intenção e disciplina. Abaixo se encontra outro excelente exercício. Este pode ser utilizado pelo líder missional para se chegar à visão, à essência das coisas que inspiram e motivam a igreja-em-missão. Estas colocações chaves, quando bem aplicadas, auxiliam na descoberta dos valores centrais da igreja local:
1. Identificar os conceitos bíblicos mais importantes influenciadores e fundamentais para o ministério da igreja
2. Escrever uma lista em potencial dos principais, e centrais valores da igreja
3. Ter certeza de que cada afirmação poderá ser facilmente traduzida em ações
4. Agrupar juntas as frases similares, destacando aquelas que sejam mais importantes
5. Escrever uma lista preliminar de 4-7 valores centrais
6. Verificar a integralidade (sistema). Será que essa lista reflete todos os aspectos essenciais da igreja e ministério?
7. Descrever atitudes específicas que irão demonstrar cada um dos valores centrais em ação. [2]

Este tipo de encontro exigirá tempo para reflexão e muito diálogo entre os participantes. A fim de chegar a um consenso sobre como a igreja poderá cumprir sua parte na missão de Deus, precisamos adquirir uma compreensão mínima das forças sociais, dos processos culturais, bem como dos valores da economia, política e religiosidade que modelam a sociedade e a igreja local. Outro excelente modelo que ajuda a compreender o papel da igreja em sua cidade foi chamado de igreja-comunidade e desenvolvido por David Britt, no livro Planting and Growing Urban Churches[3]:


Quando os símbolos religiosos e valores culturais da igreja local estão em harmonia com aqueles da comunidade local, o evangelho receberá mais atenção e receptividade. A diferença deste para outros modelos tradicionais de crescimento de igreja é sua relação de congruência e identificação entre os valores da igreja local e os valores do contexto onde a igreja encontra-se inserida. Vários pesquisadores afirmam que essa é uma das razões pelas quais várias igrejas neo-pentecostais brasileiras cresceram muito mais rapidamente do que as denominações históricas e tradicionais: elas assimilaram melhor o jeitinho brasileiro de ser cristão, respeitando suas origens culturais e religiosas.
Precisamos observar e compreender muito bem os valores sociais, históricos e culturais da cidade. Se os símbolos da igreja são estranhos e alienígenas aos valores culturais da comunidade, a igreja dificilmente conseguirá se aproximar e identificar-se com ela. Se os valores culturais e costumes sociais forem desprezados pelos cristãos, dificilmente os visitantes freqüentarão a igreja. Assim, as igrejas mais fortes e saudáveis serão aquelas onde haja congruência entre seu ministério e seu contexto social e cultural. Ou seja, os princípios, práticas e dinâmicas do campo missionário devem ser aplicados na cidade com vistas ao desenvolvimento de igrejas saudáveis contextuais. Entretanto, toda e qualquer tentativa de congruência com a sociedade, deve limitar-se aos valores não essenciais ao evangelho. Não devemos nos identificar com o mundo à custa da perda de nossa identidade cristã.
________________________________________
[1] E. Dixon JUNKIN. Up from the Grassroots, p. 312, 313.
[2] Adaptação de CompuCoach(TM) by Robert E. LOGAN with Jeannette Buller & Helena Gerstenberg.
[3] David BRITT. Planting and Growing Urban Churches, P. 143.

Uma análise do contexto e realidade social da região onde a igreja local se encontra inserida

É necessário que o líder missional conheça não apenas a realidade histórica da igreja no país e a realidade interna da igreja local, mas também a realidade específica do contexto onde está pastoreando. É urgente que os pastores e líderes adquiram uma consciência crítica da realidade na qual vivem e à qual são enviados a fazer missão. A igreja não existe num vazio, nem surge do nada. A igreja está inserida, é afetada e influenciada pela comunidade onde vive e respira. Qualquer análise eclesiástica estará fadada ao fracasso, tornando-se incompleta, sem a análise da realidade dentro da qual a igreja está presente. Baseados numa visão missional da liderança pastoral, quero propor algumas estratégias apropriadas para uma análise específica do contexto da sua igreja:
- Adquirir e montar um mapa estratégico de missões urbanas
O líder missional deve comprar um mapa da cidade, impresso ou eletrônico, o maior que conseguir, para inserir as informações mais significativas da cidade, do seu bairro e da igreja. É importante que este mapa contenha as divisões sócio-econômicas, geopolíticas e urbanas da cidade ou região. Os limites dos bairros ou regiões devem ser verificados e checados de preferência com órgãos públicos responsáveis pelo planejamento urbano.

Utilizando-se deste mapa estratégico, o líder missional pode facilmente descobrir as regiões novas, que estão crescendo e as regiões mais antigas, que estão envelhecendo. O crescimento da igreja tende a acompanhar a explosão ou decadência demográfica, residencial e comercial de uma região. Em geral os movimentos de crescimento evangélico nas cidades acompanham os movimentos sociais de migração. Aqueles que, por uma razão ou outra estão buscando mudanças e estão em transição para uma nova etapa da vida ou nova área da cidade são mais receptivos à mensagem do evangelho.
O contexto da globalização exige que tratemos nossa região ou cidade da mesma forma que um campo missionário. Como missionários que chegam em outras culturas, não hesitemos em convidar as pessoas a seguirem Jesus, desafiando formas de comportamentos que deterioram seres humanos ou ensinando valores, conceitos e normas que exemplifiquem como nossa cosmovisão e ética cristã é diferente. É momento de começar a ler nossos mapas a partir de uma perspectiva da história de Jesus e suas implicações para toda a criação.
- Coletar dados disponíveis e previamente compilados que apontem para as diferentes realidades religiosas, históricas, sociais, culturais e espirituais da cidade / bairro.
O evangelho das boas novas vem em primeiro lugar. Depois dele, a realidade histórico-social, os contextos geográficos, culturais e espirituais da cidade são pontos de lançamento para nosso método hermenêutico, para um bom modelo de liderança ministerial. Um modelo de liderança missional deve avaliar realisticamente o contexto no qual o evangelho é para ser proclamado.
Como evangelizar uma região se não forem conhecidas suas carências urbanas e necessidades específicas? Para isso o líder missional deve visitar órgãos e departamentos públicos, centros acadêmicos específicos de estudos sociológicos, IBGE, Universidades, comissões de planejamento municipais, jornais e outras organizações não governamentais, formando assim as bases para um banco de dados sobre a cidade.
É necessário que o líder missional tenha conhecimento razoável das forças, processos, valores da economia, política, sociedade, cultura e religiosidade que modelaram a cidade ou região. Sem muito trabalho, o pastor missional pode coletar gráficos e textos que descrevam as pirâmides populacionais, moradias, densidade demográfica, nível de emprego e desemprego, pobreza, violência, preferências religiosas, e várias outras categorias.
Desde o início da pesquisa é fundamental que o líder se acerque de sociólogos, geógrafos, assistentes sociais, psicólogos, urbanistas, educadores, enfim, pesquisadores cristãos, que já estejam atuando na área de pesquisas sociais. Eles, evidentemente, conhecem melhor a cidade do que os pastores evangélicos. Uma das grandes qualidades deste grupo é que, mais do que os pastores, eles sentem a grande diferença entre o que é falado nos púlpitos no domingo e tudo o que acontece com eles no resto da semana. Sentem a discrepância e incoerência entre a mensagem pregada na plataforma da igreja e o evangelho vivido nas ruas da cidade. Esses profissionais lutam dentro de si com questões muito importantes: O que minha vida cristã tem a ver com meu trabalho e profissão na sociedade? O que o meu emprego tem a ver com a missão da igreja no mundo? Qual a relação entre as atividades e programas da igreja com o mundo secular e as esferas sociais nas quais estou inserido? Será que a mensagem do evangelho serve apenas para ajudar-me a conviver com as pressões do dia-a-dia e manter minha moralidade e integridade pessoal? Estes verdadeiros “Neemias” contemporâneos são os olhos e ouvidos da análise social e ajudarão imensamente no embasamento científico, qualidade acadêmica e excelência metodológica de qualquer projeto na cidade.
A igreja missional está localizada em lugares específicos e inevitavelmente assenta-se em áreas de enfrentamento entre o evangelho e um contexto cultural específico. Enquanto esta igreja tem um propósito claro em direção ao Reino de Deus, a liderança missional deve buscar a expressão do evangelho de forma que dialogue com a realidade histórico-social e contexto cultural. A liderança missional busca entender e interpretar este contexto para a igreja a fim de que seja uma testemunha relevante.
As perguntas que se seguem para discussão em grupo, nos capacitam a compreender o significado espiritual dos fatos demográficos e tendências futuras da igreja:
1. Quais tendências representam as maiores oportunidades para a penetração ou entrada do evangelho na nossa cidade?
2. Há previsão de alguma crise que poderia tornar-se enfoque de nossas orações e intercessões da igreja?
3. O quanto as igrejas e organizações cristãs sofrerão com as mudanças demográficas?
4. Onde a igreja continuará a crescer?
5. Alguma sub-cultura ou grupo social em especial tem manifestado um nível incomum de opressão satânica? Qual deles está experimentando um maior grau de trevas espirituais?
6. Quais sub-culturas ou grupos sociais são os mais pobres dentre os pobres bem como os mais vulneráveis e mais necessitados na cidade?
7. Quais são as oportunidades para parceria entre as igrejas espiritualmente dinâmicas e aquelas igrejas e ministérios que estão meramente sobrevivendo em outras vizinhanças?
8. Quais são os grupos sociais que estão realmente pedindo ajuda?
9. Quais são os temas sociais mais preocupantes em cada região da cidade?
10. O que essas tendências revelam sobre a natureza dos principados e potestades que reinam sobre a cidade?
11. Os ministérios e programas da sua igreja ou organização estão direcionados de forma a responder às necessidades da cidade?[1]

________________________________________
[1] Adaptação de Robert E. LOGAN, CompuCoach(TM)


Modelos Mais Eficazes de Crescimento de Igrejas


Os modelos mais eficazes de igreja
Por Rubens Muzio
Na pesquisa que realizamos com 270 igrejas de todo o país, foram feitas diversas perguntas que objetivavam compreender melhor os principais modelos utilizados em relação ao processo de plantação e crescimento da igreja no Brasil.

TEMAS %
GRUPOS FAMILIARES E OUTROS 22
CÉLULAS E OUTROS 19
IGREJA COM PROPÓSITO 16
EVANGELISMO 15
TRADICIONAL / DENOMINACIONAL 10
SEM MODELOS / SEM RESPOSTA 10
ORAÇÃO / INTERCESSÃO / UNÇÃO 9
VÁRIOS MÉTODOS / MIX DE MODELOS 9
REDES MINISTERIAIS 5
G 12 5
DISCIPULADO 4

Com relação aos pontos positivos nesses modelos, o que está ou não funcionando bem, 17% não soube responder a questão ou não tem modelo qualquer. O restante replicou os seguintes temas de maneira nitidamente pulverizada:
TEMAS %
ACOMPANHAMENTO / AMOR E BEM ESTAR / COMUNHÃO / FOCO NA PESSOA 20
CRESCIMENTO NÚMERICO E ESPIRITUAL, CONTEXTUALIZADO E PROFUNDO 19
QUEBRA DE PARADIGMA / RESGATE DA IGREJA / INFORMALIDADE 14
SEM RESPOSTA 14
EVANGELISMO / PREGAÇÃO / LOUVOR / PALAVRA 14
GRUPOS PEQUENOS COESOS E ATUANTES 13
LIDERANÇA PRESENTE / LEIGOS E PROFISSIONAIS / MOBILIZAÇÃO 11
CAPACITAÇÃO BÍBLICA / DISCIPULADO / DONS 10
PASTOREIO MÚTUO / INTEGRAL 8
PLANTAÇÃO DE IGREJAS CONTEXTUALIZADAS 5
DEFINIÇÃO DE FOCOS PELOS PROPOSITOS 5
DESCENTRALIZAÇÃO DO PASTORADO 5
FORMAÇÃO DE LIDERANÇA / CÉLULAS / MINISTÉRIOS 4
PARCERIA 4
SEM MODELO 3
PROGRAMAÇÃO/TRADICIONAL 0,4
SEMELHANÇA COM A IGREJA PRIMITIVA 0,4
É importante notar que razões apontadas pelos líderes como sendo positivas, aquelas que foram pivôs e geraram resultados, não são necessariamente as razões determinantes para o crescimento da igreja local. Quando se olha de longe, com olhos externos, percebemos que vários desses elementos são secundários e não consideram as mudanças externas do contexto e as transformações no bairro. Às vezes, a igreja cresce, a despeito de sua liderança. Outras vezes a igreja cresce pela intervenção direta de sua liderança. 20% das igrejas pesquisadas acreditam que seu método proporciona acompanhamento, amor e bem-estar, comunhão e foco no indivíduo, ou seja, alcança bem seus objetivos. Outras 19% responderam que seu método proporciona crescimento numérico e espiritual contextualizado e profundo, o que significa que os objetivos estão sendo atingidos, pois a igreja cresce numérica e qualitativamente. Quanto aos aspectos negativos no modelo, o que não está funcionando bem. Nessa questão obtivemos algumas respostas não muito animadoras. 24% das igrejas disseram que seu método demora a deslanchar ou apresenta crescimento muito lento. Outras 30% das igrejas compartilharam a falta de gerenciamento dos projetos e recursos, bem como conflitos nos relacionamentos. Lamentavelmente, 15% das igrejas não responderam essa questão:
TEMAS
CAPACITAÇÃO / DEMORA DESLANCHAR / FALTA COMPROMETIMENTO 15%
CONFLITOS NOS RELACIONAMENTOS / INTRANSIGÊNCIA 15%
GERENCIAMENTO DOS PROJETOS / RECURSOS 15%
SEM RESPOSTA 15%
CRESCIMENTO SUPERFICIAL / RESULTADOS APARENTES 11%
ACOMODAÇÃO / PREGUIÇA / DESISTÊNCIA 11%
DISCIPULADO FRACO 10%
CRESCIMENTO LENTO / FALTA CUIDADO PASTORAL 10%
DIFICULDADE DA LIDERANÇA 9%
FALTA DE GERENCIAMENTO DO PROJETO/PESSOAS PARA AJUDAR 8%
MUITA COMUNHÃO POUCA EVANGELIZAÇÃO / ATIVISMO 8%
SEM MODELO 7%
DIFICULDADE NA IMPLANTAÇÃO DE CÉLULAS 6%
RESISTÊNCIA / TRADICIONALISMO / TRANSIÇÃO 5%
SEM PROBLEMAS 5%
ESTRUTURA EXIGE MAIS TRABALHO DO PASTOR 4%
<

Como diagnosticar a qualidade dos ministérios na igreja local?

ÍNDICE DO ARTIGO
Como diagnosticar a qualidade dos ministérios na igreja local?

Crescimento Orgânico

Crescimento Conceitual

Crescimento Diaconal

Todas as Páginas

Página 1 de 4
É necessário que o líder conheça a realidade específica e interna da igreja local. Uma das melhores e mais eficazes maneiras para realizar essa análise da igreja local será a utilização das categorias que Orlando Costas utiliza para definir crescimento integral.
Costas propõe a seguinte definição de crescimento da igreja: “É um processo de expansão integral e normal, que se pode e deve esperar da vida e missão da igreja como comunidade do Espírito, corpo de Cristo e povo de Deus”.[1] Segundo Costas, o termo crescimento indica mobilidade. O crescimento não é um fenômeno simples de ser entendido, ao contrário, é bem complexo. Ele ocorre em distintos níveis e de diferentes maneiras. Onde há crescimento há aumento, desenvolvimento, expansão, ampliação, inchaço. Há também diferentes tipos de crescimento: demográfico, biológico, emocional, psicológico, cultural, econômico, social, institucional. E dentro de cada um desses aspectos existem as qualidades de crescimento: positivo ou negativo, bom ou ruim, saudável ou patológico.

Como um organismo vivo, a igreja está capacitada a crescer normal e consistentemente. O crescimento faz parte da sua vida. Deixar de crescer seria deixar de existir. Entretanto, ocorre também o risco da deformação, do crescimento do câncer, da erva daninha. Todo organismo vivo cresce, mas nem todo crescimento é saudável para o organismo.
Na igreja, não poderá existir crescimento quantitativo sem crescimento qualitativo. É um processo integral, indissociável. Deve manifestar-se em todos os níveis: dos leigos aos líderes, dos grupos pequenos informais aos conselhos formais, das congregações pequenas às mega-igrejas, nas agências para-eclesiásticas e também nas estruturas denominacionais.
Como o crescimento é um processo multidimensional e a igreja uma realidade dinâmica e completa, é necessário que apresentemos uma teoria de crescimento integral. As igrejas tendem a crescer desproporcionalmente, enfatizando ou concentrando-se numa certa dimensão em detrimento da outra. São quatro dimensões que brotam deste crescimento integral: numérica (a reprodução de seus membros), orgânica (desenvolvimento da vida orgânica), conceitual (aprofundamento na compreensão da fé) e diaconal (serviço eficaz no mundo). O líder missional deve cuidar que sua igreja cresça simultaneamente em todas as dimensões.

AS QUATRO DIMENSÕES DO CRESCIMENTO
NUMÉRICA ORGÂNICA CONCEITUAL DIACONAL
• Reprodução
• Incorporação de novos membros
• Inserção de membros • Desenvolvimento interno
• Relacionamentos
• Estruturas de governo
• Finanças
• Liderança
• Administração do tempo e recursos
• Celebração e cultos. • Expansão e compreensão da fé cristã
• Qual é a essência da igreja?
• Conhecimento das Escrituras e história da igreja
• Análise do mundo • Serviço prestado ao mundo
• Ministério de reconciliação
• Participação nos conflitos e esperanças da sociedade
• Alívio da dor humana e
• Transformação das condições sociais
Crescimento numérico
É a reprodução que o povo de Deus experimenta ao proclamar o evangelho, convidando homens e mulheres ao arrependimento de seus pecados e à fé em Jesus Cristo, incorporando-os numa comunidade local. É a dimensão mais explorada e mais desejada pelos crentes. É a primeira pergunta feita nas conferências: “Quantos membros sua igreja tem?” Note os exemplos a seguir. Ao analisar a dimensão numérica, busca-se determinar quantas pessoas estão sendo acrescentadas à igreja por conversão, batismo e transferência, dentro de um quadro de crescimento numérico (1.1). Além desta informação quantitativa, procura-se avaliar o nível de espiritualidade e fidelidade da igreja no processo de crescimento (ou decadência) e quais as razões e fatores que levam a isso (1.2). A dimensão numérica também abarca as atividades de evangelismo que estão sendo utilizadas, os métodos empregados e os resultados obtidos (1.3).

(1.1) Em relação ao perfil da igreja nos últimos três anos:
2005 2006
Aproximadamente qual era o número de membros ativos em:
Aproximadamente qual era o número de células e grupos familiares em:
Aproximadamente quantas congregações foram iniciadas em:
Aproximadamente quantos pastores, tempo parcial ou integral, havia em:
Aproximadamente quantas pessoas se tornaram membros em:
Aproximadamente quantas pessoas deixaram de ser membros em:
Aproximadamente quantas pessoas vieram de outras igrejas e transferências, em:

(1.2) Quais têm sido as mais frutíferas e quais são os fatores que Deus mais tem usado para produzir crescimento na sua igreja nos últimos anos?
1. Evangelismo pessoal 2. Evangelismo público/eventos
3. Capacitação de líderes 4. Visitas 5. Social
6. Curas e sinais 7. Acampamentos/integração
8. Eventos/cursos/seminários 9. Grupo nos lares/células
10. Ensino 11. Oração 12. Outro:_______________

(1.3) Quais destas ferramentas de comunicação a igreja usa para divulgar sua presença na região?
1. Promoção de atividades sociais 2. Cartazes, folders
3. Programas de televisão 4. Faixas, placas luminosas, banners
5. Programas de rádio 6. Site na internet.
7. Eventos públicos evangelísticos 8. Outros _________________________
Crescimento Evangélico no Brasil

Quando falamos de crescimento do povo evangélico em nosso país devemos ter em mente alguns aspectos importantes para nós hoje e que pode dar um vislumbre de nosso futuro.
No Brasil hoje existem 1133 cidades com menos de 5 % de evangélicos e 71 cidades com menos de 1% de evangélicos. Curiosamente nove cidades das onze cidades com nenhum evangélico encontram-se no Rio Grande do Sul e a cidade mais evangélica do Brasil também. Quinze de Novembro conta com 80,37% de evangélicos em sua população. Muito embora pareça um dado animador, a grande maioria desses evangélicos são nominais, descendentes principalmente de luteranos alemães. Outro dado importante no estado mais meridional da nação é que 23 das 71 cidades com menos de 1% de evangélicos estão lá, principalmente no que conhecemos como “Serra Gaúcha”.
Outro dado a se lembrar é que esse crescimento não é homogêneo nos aspectos geográfico, social e eclesiológico. Em termos geográficos podemos dizer que alguns estados têm uma taxa de crescimento anual maior que outros como é de se esperar. O estado de Roraima cresceu anualmente mais de 13% e chegou a 46,8% da população evangélica. Isso o torna proporcionalmente o estado mais evangélico da nação. Por outro lado, o Rio Grande do Sul cresceu apenas 3,1% anualmente, menos que a metade da média nacional que foi de 7,4%.
Em termos sociais, os evangélicos cresceram em todas as classes sociais, contudo se expandiu mais entre as classes C e D. Isso sempre foi uma verdade, e ao que parece deve continuar se expandindo dessa forma, por causa do grande crescimento da população nessas classes.
Em termos eclesiológicos, tivemos um grande crescimento principalmente entre os pentecostais e neo-pentecostais. Entre os pentecostais, o crescimento se dá ainda dentro dos moldes de missão tradicional, com crescimento expansivo principalmente com a plantação de novas igrejas. Entre os neo-pentecostais o crescimento se dá principalmente através de meios de comunicação em massa, como rádio e televisão.
Contudo o crescimento ainda traz preocupações teológicas. Isso se dá porque o crescimento conceitual não avança na mesma proporção do crescimento numérico. Enquanto a igreja evangélica brasileira caminha a passos largos em termos numéricos o mesmo não se dá no conhecimento teológico. Somos uma igreja com quilômetros de extensão, mas centímetros de profundidade.
Essa falta de conhecimento conceitual aparece de três formas: o primeiro é o aumento assustador dos “sem-religião”. Essa classe de pessoas nominada dessa forma pelo IBGE chega hoje a mais de 10% da população, mas não significa que não crêem em Deus. São pessoas decepcionadas com a instituição, com as formas de culto e outros.
Outra forma que denota a falta de conhecimento teológico é o forte sincretismo com a religião romana e com o espiritismo. Embora muitos líderes não admitam, o tempo acabou por demonstrar isso: são copiadas a estruturas, nomes, usos e costumes do romanismo e do espiritismo. E ainda se tentam encontrar versículos bíblicos para justificar tal prática.
Em último lugar, a falta de crescimento denota-se pela parca e insignificante ação missionária. Quando os evangélicos eram em torno de 13 milhões tínhamos 880 missionários trabalhando em missões transculturais. Depois de pouco mais de 20 anos somos 40 milhões com apenas 3.200 missionários transculturais. Embora tenha os dois tenham crescido no mesmo ritmo, a partir do ano 2000, isso caiu vertiginosamente. Hoje existe apenas um aumento de 3,5 % em números de missionários enviados anualmente.


O que fazer diante de tal realidade? Algumas ações práticas podem mudar a realidade de nossas comunidades e também de nossa nação. A primeira dessas ações á a intercessão. Cremos que a oração a nível estratégico, objetiva, apaixonada diante do Senhor pode romper fortalezas e mudar as estruturas. Nos últimos anos temos visto uma enxurrada de denúncias acerca de diversas atividades ilegais em nosso país. Creio efetivamente que isso tem se dado pelo clamor de um povo que se chama pelo nome do Senhor (2 Crônicas 7:14). Se o povo de Deus se comprometer em orar para que essa realidade evangélica em nosso país alcance o nível que Ele deseja, cremos que isso acontecerá.
Outra atitude que devemos ter é divulgar esses dados ao maior número de irmãos, igrejas e instituições que conseguirmos. Como diz o profeta Oséias: “meu povo se perde porque lhe falta o conhecimento” (4:6). Se tornarmos esse conhecimento disponível às pessoas podemos gerar uma paixão pelas pessoas que estão necessitando do Evangelho nesses lugares. Eu não tenho medo do mal dos injustos, mas sim da omissão dos bons.
Podemos agir também indo a esses lugares ou organizando caravanas em nossas comunidades, com o intuito de conhecer, orar e evangelizar esses lugares.
Outra forma é contribuir financeiramente com agências missionárias que estão focadas nessas necessidades. Dessa forma, podemos alcançar as pessoas sem estarmos lá.
A realidade sobre o crescimento evangélico no Brasil

Em 1970, a população evangélica girava em torno de 4,8 milhões de fiéis. Em 1980, o tamanho do rebanho evangélico galgou a marca de 7,9 milhões. Em 1991, a igreja já avançava a barreira dos 13,7 milhões. A igreja e seus líderes estavam nas manchetes dos jornais, comprando redes de televisão, elegendo políticos, marcando gols e cantando música gospel. Em 2000, acima de todas as previsões estatísticas, a igreja ultrapassou os 26 milhões de adeptos! Durante a década de 90, a velocidade de crescimento da Igreja Evangélica foi 4 vezes maior que a da população brasileira. Atualmente, a partir dos dados do IBGE, censo 2000, giramos os redor dos 24% da população brasileira, ou seja, mais de 37 milhões de almas. se o crescimento continuar no mesmo ritmo daquele constatado entre 1991 e 2000 e se levarmos em conta apenas as projeções estatísticas, a população evangélica chegaria a aproximadamente 55 milhões no ano 2010!
Sem a menor dúvida, este crescimento é impressionante e sua velocidade fenomenal. Enquanto no hemisfério norte muitas igrejas morrem diariamente ou são transformadas em museus, escolas e clubes, no Brasil, as mais de 220 mil igrejas continuam a dar sinais que o crescimento numérico ainda não chegou ao fim. É necessário, contudo, que façamos algumas perguntas. Por exemplo, o crescimento da igreja é homogêneo, não apresentando desigualdades em todo o país? Quais são ainda as necessidades e desafios evangelizadores em termos regionais e municipais, ou seja, quais são as regiões menos alcançadas do Brasil? Naturalmente esse crescimento não é homogêneo nos aspectos geográfico, social e eclesiológico:
• Em termos geográficos, como é de se esperar, alguns estados têm uma taxa de crescimento anual maior que outros estados. Roraima cresceu anualmente mais de 13% e 46,8% da população se identifica como evangélica. Isso o posiciona proporcionalmente como o estado mais evangélico da nação. Por outro lado, os evangélicos no Rio Grande do Sul cresceram anualmente apenas 3,1%, menos que a metade da média nacional de crescimento entre os evangélicos que ficou em torno de 7,4%.
• Em termos sociais, os evangélicos cresceram em todas as classes sociais, contudo se expandiram muito mais entre as classes C e D. Isso sempre foi fato, e ao que parece as igrejas continuarão se expandindo nessas classes sócias, por causa do forte crescimento populacional.
• Em termos eclesiásticos, tivemos um grande crescimento principalmente entre os pentecostais e neo-pentecostais. Entre os pentecostais, o crescimento se dá ainda dentro dos moldes de missão tradicional, com crescimento expansivo, principalmente com a plantação de novas igrejas. Entre os neo-pentecostais o crescimento se dá principalmente através de meios de comunicação em massa, como rádio e televisão.
Quanto às regiões menos alcançadas do Brasil, hoje existem 1133 cidades com menos de 5 % de evangélicos e 71 cidades com menos de 1% de evangélicos. Curiosamente nove cidades das onze cidades com nenhum evangélico encontram-se no Rio Grande do Sul e a cidade mais evangélica do Brasil também. Quinze de Novembro conta com 80,37% de evangélicos em sua população. Muito embora pareça um dado animador, a grande maioria desses evangélicos são nominais, descendentes principalmente de luteranos alemães. Outro dado importante no estado mais meridional da nação é que 23 das 71 cidades com menos de 1% de evangélicos estão principalmente naquela região que conhecemos como “Serra Gaúcha”. Veja o mapa ao lado (ou a seguir ...)
[parte 2?]
O crescimento dos evangélicos traz também algumas preocupações teológicas. Como analisar o aumento daqueles que estão decepcionados com o lado institucional da igreja? Cada vez mais pessoas se declaram sem religião ou sem filiação religiosa. O crescimento da igreja melhorou a qualidade de vida do povo brasileiro? O Brasil dos 45 milhões de evangélicos é um país melhor que o Brasil dos 10 milhões de evangélicos? O crescimento na sua qualidade e capacidade de transformação avança na mesma proporção que o crescimento numérico? Ainda somos uma igreja imatura com quilômetros de extensão, mas centímetros de profundidade. Destacamos três aspectos desta questão:
• O aumento assustador dos “sem-religião” ou “sem filiação religiosa”, chamados assim pelo IBGE, que chegam hoje a mais de 10% da população. Não significa que todos descreiam em Deus. Muitos apenas expressam sua decepção com a instituição, com suas formas de cultos e desapontamento com seus líderes e suas promessas.
• O forte sincretismo e umbandinização que mescla modelos, estruturas, nomes, usos e costumes, do romanismo ao espiritismo. A utilização de expressões sincretistas como “rosa ungida”, “manto consagrado”, “fogueira santa” e “água abençoada” são muito comuns nos cultos evangélicos. Muitos cristãos crêem que estes objetos são capazes de proteger a casa e liberar os males que os cercam.
• Por último, a falta de crescimento denota-se pela parca e insignificante ação missionária. Quando os evangélicos eram em torno de 13 milhões tínhamos 880 missionários trabalhando em missões transculturais. Depois de pouco mais de 20 anos somos 45 milhões com apenas 3.200 missionários transculturais. A partir do ano 2000, o crescimento caiu vertiginosamente. Hoje existe apenas um aumento de 3,5 % em números de missionários enviados anualmente.

O que fazer diante desta situação? Cremos a pesquisa feita pelo Instituto alemão Bertelsmann Stiftung (What the World Believes, Analyses and Commentary on the Religion Monitor 2008) em 21 países e divulgada pela Revista Época na semana passada, trás esperanças e gera oportunidades. O estudo revelou que os jovens brasileiros são muito religiosos e estão em 3° lugar no mundo, atrás apenas dos jovens da Nigéria e Guatemala. A boa notícia não pára por aí. Ainda segundo a pesquisa, dos jovens brasileiros entre 18 e 29 anos, 95% se consideram religiosos e 65% afirmam que são “profundamente religiosos”. Infelizmente apenas 35% afirmam viver de acordo com os preceitos religiosos.
Milhões desses jovens estão navegando como nunca nos sites religiosos da internet. Sabemos que a internet viabiliza uma exposição aos pensamentos religiosos sem discriminações e o anonimato virtual ajuda na propagação das idéias sagradas. Com o advento da internet, o jovem se tornou globalizado e isso se aplica a sua religião. A diversidade de crenças se propaga na net como um spam. A internet se tornou seu santuário. Novas religiões e seitas virtuais sem regras e sem compromissos estão surgindo a todo o momento. Aproveitemos as oportunidades da internet para alcançarmos estes jovens com o amor e graça do Senhor Jesus
O crescimento da igreja evangélica e o genuíno despertamento espiritual

Introdução
Nos dias 19 e 20 de março de 2007, o Datafolha[1] realizou uma pesquisa religiosa comprovando aquilo que todos nós já sabíamos: os evangélicos continuam crescendo em quase todo o Brasil: eles são 22% da população brasileira! Interessante notar que nesta pesquisa, eles foram subdivididos apenas em dois grupos: evangélicos pentecostais (17%) e evangélicos não-pentecostais (5%), o que comprova mais uma vez que a grande maioria (quase três quartos) da igreja evangélica é fruto do movimento carismático e pentecostal.

A pergunta que vale um milhão de dólares (ou euros, com a desvalorização): Estamos realmente passando por um avivamento no Brasil? Será que as características e qualidades deste crescimento tipificam um genuíno avivamento? Será que este crescimento não demonstraria apenas um despertamento geral da população brasileira para as questões espirituais, decepcionada com a modernidade e suas promessas de realiz ação e felicidade?
Para responder esses questionamentos, precisaremos saber que tipo de igreja está crescendo e avaliar algumas características da espiritualidade brasileira. Inicialmente devemos reconhecer que o Espírito de Deus tem agido em muitas regiões do Brasil, aumentando a sensibilidade das pessoas, trazendo-as ao reconhecimento de suas necessidades espirituais, restaurando pessoas e transformando famílias. É inegável que multidões foram trazidas a uma nova convicção da verdade do evangelho, persuadidas a Cristo, o Filho de Deus, como o único Senhor e Salvador da humanidade. É notório que vários aspectos do avivamento estejam presentes no Brasil. Talvez este seja um tempo de colheita! Colheita, porque as terras brasileiras foram fertilizadas pelas sementes, sangue, suor e lágrimas de muitos pregadores por mais de um século, desde que os primeiros missionários chegaram ao Brasil nos idos de 1850 e elas frutificaram a cem, a sessenta e a trinta por um (Mt 13:23). Entretanto, há sinais claros de fumaça no horizonte, sinais de que nem tudo vai bem no arraial evangélico. Este artigo procura destacar algumas impressões sobre o crescimento da igreja evangélica no Brasil nas últimas décadas. São elas:

1. Uma espiritualidade carnal ou uma carnalidade espiritual
A conversão ao cristianismo leva necessariamente à mudança de atitudes: velhos vícios são abandonados e uma nova linguagem é aprendida (seria o evangeliquês?). O novo convertido experimenta fortes emoções, sente o amor de Deus e entrega sua vida a Ele. Entretanto, por mais válidas e abençoadoras que sejam essas experiências espirituais, elas não demonstram conhecimento profundo da graça salvadora e da pessoa de Deus. Reverência a Deus, dedicação à igreja e fortes emoções religiosas não florescem nos campos daquela espiritualidade que é regada pela água da vida, pela alegria do Espírito e pelo amor genuíno descoberta na cruz de Jesus. Ou seja, pessoas com aparência espiritual podem estar vazias da graça de Deus.
Isso faz com que muitos dos crentes, participantes das igrejas brasileiras, manifestem alguns tipos de pecados religiosos dissimulados, estilos de carnalidade com fachada de espiritualidade. É comum para aqueles que invejavam o carro importado ou a casa do colega de trabalho desejarem agora as mesmas coisas através de uma oração de posse, decretando prosperidade do Filho de Deus. Aqueles que anteriormente ambicionavam o cargo ou comissão do chefe do departamento, agora aspiram, humilde e avidamente, ao título de diácono ou a posição de liderança (pastor, bispo, apóstolo, etc.) com toda a voracidade do mercado de trabalho. Embora não exagerem mais na quantidade de bebida alcoólica (comida em excesso parece ser liberado nas igrejas, em geral) a glutonaria ambiciosa dos dons espirituais e cargos ministeriais mantém os desejos carnais bem vivos e ativos. É claro que tudo isso se disfarça com tanta sutileza passando despercebido para a maioria dos evangélicos, freqüentadores dos cultos sendo, imperceptível até mesmo para os pastores e líderes. Esses são apenas alguns exemplos do que poderia ser chamado de espiritualidade carnal ou carnalidade espiritual. Tais atitudes, embora sutis e inconscientes, corroem a comunidade cristã como câncer, devorando sua vitalidade de dentro para fora.
Há uma grande quantidade de atividade religiosa no mundo energizada pela natureza humana e pelo próprio diabo. A natureza humana pode ser facilmente mascarada e encoberta pela espiritualidade das pessoas. Padrões e atitudes que aparentemente têm cara e jeito de cristianismo podem encobrir uma carnalidade nos níveis mais íntimos das intenções e desejos do coração. O próprio Jesus disse que o joio é muito parecido com o trigo (Mt 13:24-27) . Quase todos os períodos de crescimento e avivamento na história da igreja comprovam que o trigo do evangelho fora cercado pelo joio das atividades carnais e elementos enraizados nos pecados do orgulho, vaidade, impureza, divisões, soberba, lascívia, etc.
Não é fácil separar o certo do errado, o bem do mal na igreja da atualidade. Por um lado, Deus está agindo imensamente em todo o Brasil, revitalizando velhas igrejas e especialmente plantando e fazendo crescer novas comunidades. Mas Satanás habilmente planta o joio no meio do trigo do avivamento, misturando o santo com o profano, bombardeando a luz do evangelho com os projéteis e mísseis das trevas, mesclando o bom leite espiritual com o café amanhecido da religiosidade (numa linguagem bem brasileira). A tarefa de arrancar o joio do meio do trigo – e separar a igreja verdadeira da artificial - é impossível aos homens, segundo Jesus.
Da mesma maneira, o joio está misturado no coração de todas as pessoas. O pecado se mistura em diversas doses e combinações dentro do coração, diluindo os elementos da fé, amor e santidade, implantados após a conversão pelo Espírito Santo. Ninguém é capaz de identificar e separar completamente o que vem de Deus daquilo que vem dos próprios desejos do coração humano. Há tantas combinações entre o bem e o mal, entre virtude e vício, entre aspirações por santidade e desejos da carnalidade. Nenhum cristão pode ter certeza absoluta que suas experiências sejam puramente experiências espirituais, sem que estejam poluídas pelo pecado ou misturadas à natureza humana. Nas terras do coração, as sementes da maldade fertilizam lado a lado com as sementes da Palavra. O importante é saber regar e adubar as melhores plantas.
O melhor é reconhecer humildemente as grandes semelhanças entre a espiritualidade dos religiosos e dos genuínos cristãos! Quantas vezes determinadas denominações e comunidades isolam-se dos outros grupos por considerarem-se mais espirituais, separam-se para viver em comunidades orgulhosas e egoístas! Quão difícil é separar o joio do trigo! O Deus onisciente, o conhecedor dos corações, é o único que tem prerrogativa para separar as ovelhas dos cabritos, estes para o castigo eterno, aqueles para a vida eterna (Mt 25:31-46).

2. A presença de um sub-cristianismo confirmado pela supercialidade das conversões
John Stott, no 1o Congresso de Lausanne, descreveu com ousadia a igreja africana da seguinte forma: como um grande rio, com milhares de quilômetros de extensão e centímetros de profundidade. Esta tem sido uma das preocupações mais enfatizadas pelos missiólogos na análise do crescimento da igreja no hemisfério sul: apesar de que milhões tornaram-se cristãos e demonstraram um entusiasmo superficial e alegria contagiante, os corações não foram profundamente afetados com o evangelho. No caso da África, é evidente a dificuldade da igreja ao lidar com as guerras tribais, a poligamia e a grande epidemia da AIDS. Já surge uma nova geração de africanos que desprezam o cristianismo. Falando na International Consultation on Discipleship, para 400 líderes de 90 organizações de 54 países, em 1999, Stott reafirmou que a igreja está crescendo com força, mas em muitos lugares o problema é que o crescimento não tem profundidade (Oosterhoff, 1999, p. 1). O Brasil, com seus 40 milhões de evangélicos e 200 mil templos, deve constantemente avaliar se o crescimento acelerado está sendo acompanhado com profundidade teológica, substância espiritual, maturidade no discipulado e transformação comunitária.
Sem dúvida, a igreja evangélica brasileira fez um ótimo trabalho como obstetra, de evangelização, de parteira espiritual, gerando milhões de novos-crentes, introduzido-os ao leite materno da fé cristã. Entretanto, ela demonstra grandes dificuldades no conhecimento de Deus, no aprofundamento das dinâmicas da fé, na mortificação do pecado e no processo de transformação pessoal e comunitário. O evangélico brasileiro ainda crê e pratica um cristianismo infantil, bastante rudimentar, sem consciência da abrangência do pecado na sua vida e nas cidades.
Nos períodos de crescimento, a igreja porta-se como uma criança, cheia de vigor e energia, imaturidade e insegurança. Pais de crianças e adolescentes sabem muito bem a quantidade de gás e vitalidade (e comida!) que seus filhos liberam na prática de esportes, atividades diárias, escola, acampamentos, brincadeiras, etc. Entretanto, eles ainda são frágeis e imaturos, machucam-se e choram com freqüência, aprontam e apanham, são indefesos e dependentes. Muitos cristãos brasileiros foram superficialmente evangelizados e praticam o sub-cristianismo do aceitar-Jesus e das 12 lições de discipulado, desde que lhes garanta a entrada no trem celestial. Com os cultos de entretenimento e suprimento de necessidades, o crente continua a viver um estilo de vida pouco tocado pelos valores do evangelho, cuja semente não penetra nos terrenos mais profundos do coração humano e da sociedade brasileira.
Qual a influência da igreja evangélica na sociedade brasileira? Assista a TV e perceba que, apesar dos muitos programas evangélicos, o sensacionalismo popular dos shows de televisão e a mentalidade competitiva e derrotista do Big Brother Brasil revelam uma cultura cada vez mais brutal, sensual, animalesca e enamorada de seqüestros e da violência. Corrupção e oportunismo impregnam as estruturas de poder, inclusive a política evangélica. Não estaria longe dos princípios do reino de Deus a igreja defensora da cobiça, incentivadora dos valores materiais, protetora do forte, do famoso, do rico e do belo, e desvalorizadora do fraco, da viúva, do velho e do pobre?
Imaginem uma panela de água fria, na qual nada uma rã. Acende-se o fogo debaixo da panela. A água aquece suavemente e em breve fica morna. A rã acha aquilo agradável e continua a nadar tranqüilamente. A temperatura começa a subir, a água fica quente, a rã gosta, mas não se transtorna com o fato, sobretudo porque o calor tende a cansá-la e a entorpecê-la. Agora a água está mesmo quente! A rã começa a achar desagradável, mas está tão debilitada, esforça-se por se adaptar, mas não consegue fazer nada. A temperatura da água continua a subir progressivamente, até o momento em que a rã acaba simplesmente por ficar cozida e morrer, sem nunca conseguir saltar para fora da panela. Se ela fosse mergulhada repentinamente numa panela a 50º, a mesma rã daria logo um pulo para fora da panela.
A igreja na sociedade tende a agir como a rã, absorvendo os valores ao seu redor, ficando tão saturada com a cultura de mercado, que não percebe a temperatura das águas. Sem a constante prática de um cristianismo genuíno que busca fortemente o Senhor, reconhece o pecado a anda com Cristo diariamente, a pessoa nada tranqüila nas águas do consumismo, sensualismo, secularismo e individualismo e não percebe mais a proximidade da morte.
O secularismo e nominalismo têm avançado nas últimas décadas. Isso é evidenciado pelo número de homens e mulheres que estão se identificando como pessoas sem religião ou sem filiação religiosa. Um dos estados mais evangelizados do Brasil, o Rio de Janeiro com 30% de evangélicos, tem 12% nesta categoria. Essa tendência acompanha outros estados do Brasil: onde mais cresce a igreja evangélica, mais cresce também os sem-religião. Quase 10% da população brasileira já se encontra nessa categoria! A maior igreja luterana da América Latina situa-se em Timbó, Santa Catarina. Timbó é uma belíssima cidade, situada no Vale do Itajaí, com um dos melhores índices de desenvolvimento humano (IDH) do Brasil. Segundo um pastor local, Disney Macedo, essa igreja, com mais de 15 mil membros, congrega apenas 40-50 pessoas nos seus cultos dominicais.
Há muitos ex-evangélicos vagando pelas nossas cidades! Por muitos anos, eles criticaram os católicos brasileiros pelo evidente nominalismo: igreja como: local de batismo, casamento, funeral e ocasiões especiais. Parece que muitos tendem a copiar esse perfil nominal de crente descomprometido, adepto de um cristianismo light e culturalmente desenraizado.

3. O enfoque no emocionalismo e na experiência mística
Tendo morado em Toronto por alguns anos, tive a oportunidade de visitar a Airport Church, uma igreja da denominação Vineyard, tão aclamada pela divulgação das conferências, unções diversas e experiências chamadas Toronto’s blessing. Muitos brasileiros foram visitá-la em busca de uma bênção especial. Será que o entusiasmo brasileiro é sinal do verdadeiro cristianismo? Será que a fé evangélica deve estar fundamentada em fenômenos, sinais e milagres? A igreja deveria centralizar suas expressões de fé nas experiências espirituais, fortes emoções, entusiasmo e sensações de calor e arrepio pelo corpo? Tudo que reluz é ouro?
Fenômenos e experiências espirituais são comuns e muito variados nos períodos de avivamento e despertamento espiritual. Eles podem ser fenômenos físicos - cair prostrado, desmaiar sob a convicção do pecado, pessoas que parecem estar em transe ou inconsciente; ou fenômenos emocionais e mentais – grande alegria ou tristeza, palavras de conhecimento e profecias, capacidade de oratória, etc. Martyn Lloyd Jones (1993, 138-149), no seu livro Avivamento, destaca quatro princípios acerca dos fenômenos:
1) Deus usa os fenômenos para chamar a atenção para si mesmo e para sua obra, levando pessoas à conversão;
2) O Espírito Santo afeta e influencia a pessoa integral, podendo produzir ou não grandes emoções. Eles (os fenômenos) são um sinal que um estímulo muito poderoso está em operação. O emocionalismo, diferente das emoções espirituais, é produzido, forçado ou manipulado;
3) Eles não são essenciais ou vitais ao avivamento. Embora geralmente estejam presentes em períodos de avivamento, podemos ter um avivamento sem eles;
4) Não devemos buscar fenômenos e experiências estranhas. J. H. Moore, o homem que iniciou o avivamento na Irlanda do Norte no século XIX não gostava deles. Jonathan Edwards defendeu-os na sua maioria como vindos da parte de Deus. John Wesley e George Whitefield não gostavam muito deles e ficavam incertos sobre sua origem. O que devemos buscar é a manifestação da glória de Deus, do seu poder, da sua força.
Sentimentos, freqüentemente fortes e incontroláveis, acontecem quando um homem ou uma mulher se torna um cristão verdadeiro: grande derramamento da graça e compreensão do maravilhoso amor de Deus, sentimento de ódio e pranto diante do pecado e imperfeições, o recebimento do perdão de Deus que leva à alegria e paz indizíveis, etc. Não queremos negar a importância das emoções e sentimentos, descartando-os como imaturidade, chamando-as de emocionalismo barato.
Entusiasmo não é sinônimo de santidade da mesma forma que emoções fortes não garantem a presença de um cristianismo autêntico. Muitos crentes esperam pelas experiências secretas, buscando a influência das visões em seus pensamentos e idéias; eles são atraídos àquilo que Deus deseja fazer emocionalmente em suas vidas. Como a alegria que está na emoção por si só é passageira, eles precisam constantemente impulsionar o high com novas experiências (drogas?), descobertas e técnicas espirituais para voltar a sentirem-se felizes.
O cristianismo não somente afeta as emoções, mas a mente das pessoas. Jonathan Edwards, pastor e filósofo, incentivador do Primeiro Despertamento Espiritual nos estados do nordeste americano, falava sobre o princípio do calor e luz. Muitos cristãos estão cheios de luz - idéias, conhecimento intelectual, doutrinas, conceitos teológicos, mas têm pouco calor. Se a fé não move as disposições para os desejos da vida e não afeta emoções é prova de que o cristianismo não é verdadeiro. A ênfase emocional produz o efeito oposto: muito calor – entusiasmo, sentimentos - e pouca luz. O fato de alguém estar emocionado com as questões da igreja não prova que ele viva um cristianismo verdadeiro. Esta ênfase no aspecto emocional da fé produz mais calor do que luz. Calor e luz precisam caminhar como parceiros no coração do cristão.
As fortes emoções facilmente produzem palavras bonitas, um evangeliquês dito com facilidade. Os evangélicos aprenderam mais rapidamente a falar como crentes, do que a viver como santos. Em todo o país, igrejas demonstram um exagerado entusiasmo e vibrante emocionalismo, uma espiritualidade que demonstra extraordinário calor, inspiração e extravagantes demonstrações de paixão. Richard Lovelace (1979, p. 42) questiona a respeito dos sentimentos que consideramos espirituais por não estarem enraizados no amor próprio? Muitos celebram um falso sentimento de comunhão com Deus baseados principalmente nas emoções, arrepios e experiências humanas; frutos de uma imaginação fértil, apenas acham que Deus as ama. Por essa e outras, muitos daqueles que demonstraram calor inicial foram batizados na igreja, mas, vazios da luz de Deus, voltaram à velha vida ou simplesmente vivem uma vida vazia e fria! Neste sentido, as emoções podem mover pessoas para longe ao invés de trazê-los para perto de Deus.

4. A esterilidade de muitos evangélicos
Em países do hemisfério norte, igrejas são transformadas em boates, museus, clubes e até mesmo renovadas em mesquitas. A igreja Missionary Alliance em Toronto, onde A.W. Tozer fora pastor tornou-se um templo da Hari Krishna. Eu próprio, quando pastoreava numa sociedade pós-cristã e pós-moderna no Canadá, presenciei de perto a decadência e morte de algumas igrejas, como pacientes em estado terminal, incapazes de recobrarem-se e de recuperarem-se. Finalmente, elas se fecharam.
Isso pode muito bem acontecer no Brasil daqui alguns anos. Nem sempre a história de países como Escócia, Inglaterra, Alemanha, Irlanda e Canadá foi de fracassos e derrotas. Por exemplo, mais de 90% da população canadense se dizia comprometida com o Reino de Deus, participante de igreja, há 100 anos. Atualmente, menos de 3% dos habitantes de Toronto freqüentam ativamente uma igreja evangélica e a maioria absoluta das denominações e igrejas locais continuam declinando. A história é semelhante em vários países da Europa. Não é a toa que muitos estudiosos afirmam que o eixo do cristianismo mudou-se para o hemisfério sul. A maioria dos cristãos evangélicos encontram-se na Ásia, África e América Latina.
Enquanto a igreja brasileira exibe certas qualidades do avivamento como a criatividade, entusiasmo evangelístico, visível alegria, vigor espiritual, muitos cristãos não produzem frutos em palavras e atos. Sempre me impressionou a severidade com que Jesus tratou a figueira estéril. Ele amaldiçoou-a dizendo: “Nunca mais produza fruto em ti”. Em João 14, o evangelista descreve a cena na qual Deus olha para a vida dos crentes com os olhos do fazendeiro que verifica a plantação em busca de frutos. As árvores frutíferas são melhoradas e aperfeiçoadas para que frutifiquem mais ainda. As árvores infrutuosas são cortadas e queimadas.
Ary Velloso, meu amigo e companheiro na Sepal, costuma suspeitar quando algum não-crente lhe afirma ter um amigo ou colega evangélico. Para não incorrer no erro de assumir que a pessoa tem dado testemunho de Cristo, ele então pergunta: “seu amigo é crente mesmo ou picareta”? Este mesmo questionamento, evidenciado tantas vezes nos meios de comunicação, é resultado de igrejas que vivem um cristianismo aparentemente estéril, crentes que não produzem frutos dignos de arrependimento.
Paulo chama de fruto do Espírito as virtudes do caráter descritas em Gálatas 5:22 e 23. No Salmo 1, da mesma forma que em João 14, o ser humano é comparado a uma árvore: com muitos galhos, provindos da mesma raiz. Se a seiva da raiz distribuída por entre os galhos é boa (amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, domínio próprio, fé, etc.), então o fruto será de boa qualidade. Mas se a seiva da árvore é ruim (prostituição, impurezas, lascívia, iras, discórdias, ódio, ansiedade, medos, ressentimentos, etc.), seus frutos serão mortais. Embora o fruto pareça ser igual em toda árvore e as árvores pareçam ser todas iguais - semelhantes em forma, cor, tamanho e cheiro - a diferença é percebida quando o fruto é experimentado. Isso acontece freqüentemente entre cristãos genuínos e meros religiosos. São parecidos, mas muito diferentes na essência.
Esta esterilidade e falta de seiva espiritual pode estar ausente tanto das igrejas históricas como pentecostais, neo-pentecostais ou carismáticas, liberais ou conservadoras. Os pacotes e rótulos, cores e tamanhos, ministérios e programas variam de denominação para denominação. Mas a essência é a mesma: muitas folhas e poucos frutos, muitas nuvens e quase nenhuma chuva, muito evangeliquês e nenhuma santidade, muito falar e pouco fazer. Apesar do crescimento de folhas e desabrochar de flores, a esterilidade e infrutuosidade permanecem.
Em o Novo Testamento fica claro que os cristãos seriam conhecidos pelos frutos das boas obras, pela vivência de um evangelho integral, pela diaconia e ação social, pelas obras de solidariedade, etc. A árvore é conhecida pelo fruto que produz (2 Pd 2:17; Lc 6:44). Jesus nunca afirmou que homens e mulheres seriam conhecidos pelas suas folhas e flores: conhecimento teórico das histórias e doutrinas bíblicas, experiências e visões espirituais, retórica e excesso de palavras, elogios, abraços, extroversão e sorrisos, ou lágrimas, entusiasmo e emoções fortes. “Pelos frutos os conhecereis”, disse Jesus em Mateus 7:20-23. Nem todos aqueles que invocarem a Deus dizendo: “Senhor, Senhor”, serão salvos. Nem todos aqueles que participaram das igrejas, expulsaram demônios, pregaram o evangelho, ensinaram a Bíblia, fizeram milagres, serão salvos. “Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade”.
Jesus sabe muito bem distinguir as árvores frutíferas daquelas que estão apenas repletas de folhas e improdutivas, mesmo que exuberantes e verdejantes. Várias vezes, as Escrituras criticam aqueles religiosos que fazem um show off de sua religiosidade. Eles são como uma nuvem que parece estar encharcada de água, mas logo se dissipa com o vento forte sem produzir a chuva necessária para a terra árida (Pv 25: 24 e Jd 4 e 12).

5. A busca de chaves mágicas e modelos milagrosos
As igrejas oferecem vários programas, encontros, retiros, oficinas, conferências, mas parece que pouco muda profundamente, a longo prazo. Acumulam-se os cursos de cura interior, fóruns sobre espiritualidade, congressos sobre batalha espiritual, conferências missionárias e concertos de oração. A mentalidade do marketing predomina, a ilusão de que o mero uso de técnicas e programas irá resultar em sucesso e crescimento.
Não faltam às igrejas brasileiras oportunidades para a clonagem de programas. Ao alcance de um simples telefonema ou link da internet estão centenas de modelos importados que descrevam como fazer bem como diversas ferramentas ministeriais, verdadeiros pacotes e kits para reprodução. Muitos importam modelos eclesiásticos de igrejas americanas e outras mega-igrejas do hemisfério norte bem como utilizam verdadeiras cópias latinas, tais como o G12, de Bogotá ou Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte.
O homem moderno acredita que pode manipular o ambiente ao seu redor e chegar aos resultados desejados se tão-somente utilizar técnicas e ferramentas ministeriais de forma correta. Ele pensa que, se utilizar os instrumentos certos, misturados a uma boa dose de esforço e dedicação, a receita irá funcionar. Se tão somente utilizar o método correto, tudo vai acontecer direitinho conforme a sua visão. Aliás, as técnicas certas, quando aplicadas com eficácia e eficiência, farão com que a igreja cresça. Ouçamos as palavras de Eugene Petterson:
Os pastores da América metamorfosearam-se num grupo de lojistas e as lojas de comércio que possuem são suas igrejas. Eles estão preocupados com as preocupações dos lojistas: como manter seus clientes felizes, como atrair mais clientes para longe dos competidores do outro lado da rua e como empacotar seus produtos de forma que os consumidores paguem mais dinheiro. Alguns deles são muito bons lojistas. Eles atraem uma multidão de consumidores, angariam grandes somas de dinheiro, adquirem esplendida reputação. Mesmo assim isso é apenas comércio. É verdade que sejam bons donos de lojas, mas não deixam de ser apenas lojistas. As estratégias do marketing, da “franchising”, do “fast-food” ocupam as mentes despertas destes empreendedores. Sonham acordados com aquele tipo de sucesso que atrairá a atenção dos jornalistas (2003, p. 2).
Igrejas se tornam firmas, meras lojas que fabricam e vendem produtos religiosos, em busca de clientes e aumento de sua fatia no competitivo mercado religioso. Mesmo sem toda a sofisticação das grandes empresas, elas têm aprendido a utilizar as estratégias de marketing de maneira eficaz, procurando conhecer as demandas do público, oferecendo-lhe produtos diferenciados das outras igrejas e específicos às necessidades físicas, emocionais, profissionais e espirituais dos membros, para que possam satisfazer os seus desejos. A Igreja neste contexto deixa de ser o povo de Deus e assume dimensões materialistas e consumistas. Essas igrejas tendem a serem dominadas por uma prática de vida auto-centrada, egoístas, mais preocupadas com a edificação de seus impérios pessoais do que com a expansão do Reino de Deus.
Diante de tantos produtos religiosos e opções eclesiásticas, lamentavelmente o crente-cliente e o visitante desigrejado se vêem com total liberdade para utilizar critérios consumistas na escolha da melhor igreja. Os critérios são semelhantes àqueles utilizados na escolha de um restaurante ou pizzaria: prazer, sabor, gosto, qualidade do produto e atendimento, promoções, boa propaganda, etc. O envolvimento nas igrejas em geral é estritamente opcional e exercitado pelo indivíduo, com sua própria decisão pessoal. Já vimos que, como resultado, membros e não-membros são vistos como consumidores religiosos atrás de produtos, buscando os serviços religiosos que melhor se encaixem às suas necessidades pessoais.
A impressão é que o reino de Deus poderia ser alcançado através de genialidade humana e capacidade profissional. A percepção que muitos crentes têm é que sempre existirá uma técnica certa para cumprir a missão da igreja local em seu contexto; existirão sempre estratégias e métodos infalíveis para se chegar ao objetivo desejado pela igreja. No fundo do coração, cresce a florzinha da auto-suficiência que afirma ser o crescimento da igreja resultado muito mais do planejamento e esforço humano do que ação de Deus e poder do Espírito Santo.

Considerações finais
A saúde da igreja depende fortemente das condições espirituais dos seus participantes e não apenas da quantidade de atividades religiosas e da criatividade dos programas. Modificações estruturais e organizacionais gerarão apenas mais atividade e movimento sem, contudo, produzir os efeitos permanentes e duradouros de um avivamento genuíno. Há princípios que governam a saúde espiritual.
Dois pilares enfatizados por pessoas como Jonathan Edwards, John Wesley, George Whitefield, Dwight Moody e Martyn Lloyd Jones em tempos de avivamento genuíno são: conhecer Deus e conhecer a si mesmo. João Calvino afirmou no capítulo de abertura de suas Institutas que a soma quase toda de nossa compreensão consta de duas partes: do conhecimento de Deus e do conhecimento de nós mesmos. Ou seja, o grau de vitalidade e vigor desta espiritualidade cristã está diretamente proporcional ao nosso progresso nessas duas áreas.
Todo genuíno despertamento começa com o conhecimento de Deus, a compreensão da sua presença, a manifestação do seu amor, a sensação que o cristão tem de estar cheio de toda a plenitude de Deus (Jr 7:5-6, 9:23,24; Mq 6:8, Am 5:15; Is 1:12-17; Pv 11:2-3; 15:33; 18:12 e Cl 1:10). A chave do cristianismo é desenvolvimento de um relacionamento pessoal com Deus. O centro da vitalidade espiritual não é uma simples experiência espiritual, mas a apreensão da realidade, caráter e intimidade com o Deus Pai, filho e Espírito e profunda compreensão de sua presença. Quão real Deus é para você? O primeiro efeito produzido na alma cristã é ter prazer num relacionamento pessoal com Deus. C. S. Lewis nos lembra que a saúde espiritual de um homem é exatamente proporcional ao seu amor por Deus.
Todo genuíno despertamento espiritual leva ao conhecimento de si mesmo, a real visão de nossa alma carente e pecaminosa. William Carey, famoso missionário, tradutor e lingüista, pediu que a seguinte frase fosse escrita em sua sepultura: “Eu, verme miserável, pobre e incapaz, caio em teus braços carinhosos”. Este é o verdadeiro espírito de avivamento: o reconhecimento da natureza pecaminosa, da tendência traiçoeira do coração, do pecado residente que envenena e condena o homem diante de Deus. Por detrás desta bondade complacente aparente do ser humano, mora o monstro que, tal qual na história do Dr. Jekyll e do Mr. Hyde, aflora e desonra o criador. Quem pode me livrar do corpo desta minha morte, disse Paulo? Durante os períodos de avivamento, invariavelmente uma das primeiras coisas que acontece é a visão do pecado como terrível e pavoroso aos olhos de Deus e a necessidade de mortificá-lo e enfraquecê-lo. Isso leva ao arrependimento, uma clara compreensão e dor causados pela situação real em que se encontra a alma.
Além desses dois pilares, todo avivamento espiritual aponta para Jesus Cristo, sua morte e suficiência na cruz. Dizem que Francisco de Assis não conseguia comer uma refeição num aposento onde houvesse uma cruz pendurada sem que lágrimas não rolassem do seu rosto. O verdadeiro avivamento leva a uma assimilação profunda e sensibilidade diante do significado e dos resultados da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Muitos cristãos evangélicos continuam carregados com sentimentos de culpas, remorsos, decepções e inseguranças. Eles não compreendem plenamente a total suficiência da obra redentora de Jesus. O mistério, drama ou escândalo da cruz, ao transferir para Jesus, todo o preço e penalidade da redenção da humanidade, por um lado, é ser uma demonstração exata da severidade da ira, julgamento e justiça de Deus e, por outro, a declaração da profundidade do amor, misericórdia, compaixão e bondade de Deus na recuperação da sua criação decaída.
Como dizia o avivalista escocês, Robert McChenney: para cada olhar para sua vida, eleve dez olhares para Cristo. A satisfação de seguir Jesus - tornar-se seu aprendiz e discípulo - deve ultrapassar toda e qualquer satisfação diária trazida pelos prazeres do cotidiano e do mundo. A vida de John Payton, semelhante a milhares de missionários cristãos, é um bom exemplo desse olhar para Cristo. Nascido em 1824 na Escócia, com 32 anos deixou seu ministério brilhante e tornou-se missionário em Wanuato, entre as ilhas canibais do pacífico sul, um mês após casar-se com Mary, entretanto, no final daquele primeiro ano, sua esposa morre de febre e três semanas depois o filhinho morre também. Sozinho, em lágrimas e desespero, ao som dos tambores indígenas das festas canibais pagãs, ele enterra sua família e sem poder dormir vigia a sepultura da esposa e filho para que seus corpos não fossem roubados e comidos pelos canibais. O que sustentou John durante todo luto foram as palavras de sua esposa, logo antes de morrer: ela nunca reclamou, nunca murmurou contra Deus. Suas palavras foram incríveis: “eu não ressinto ter deixado família e amigos. Se tivesse que fazer tudo de novo, faria novamente com mais prazer, sim, de todo o coração”. Sobre aquele momento, ele escreveu depois: “Se não fosse por Jesus, eu teria enlouquecido e morrido aos pés da sepultura”. Muitos anos depois John voltou à Escócia não mais ao som de tambores mas ao som dos sinos das várias igrejas plantadas no seu ministério. Somente um cristianismo com tal profundidade e intensidade permanecerá forte, penetrará no coração do povo brasileiro e transformará nossa nação.

Bibliografia
JONES, Martyn Lloyd. Avivamento. São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1993.
LOVELACE, Richard F. Dynamics of Spiritual Life. Downers Grove, Illinois: Inter-Varsity Press, 1979. (Trazudizdo em português pela Shedd Publicações com o título Teologia da Vida Cristã, São Paulo: 2004).
PETERSON, Eugene. O pastor segundo o coração de Deus. Rio de Janeiro: Textus, 2003.
OOSTERHOFF, Ronda.“Discipleship Conference Addresses “superficiality” in worldwide church,” In: World Pulse, 5 de Novembro de 1999.

________________________________________
[1] Foram realizadas 5700 entrevistas em 236 municípios brasileiros. A margem de erro máxima decorrente desse processo de amostragem é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, considerando um nível de confiança de 95%.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

http://ministresfiretothenations.blogspot.com